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Marta Velha - Writer

Marta Velha - Writer

Porta enferrujada... Mini conto :)

31.10.16, Marta Velha

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Quando te vi achei que serias mais um amigo. Um daqueles amigos que vimos de longe a longe, rimos de alguma parvoeira dita por alguém, damos dois beijos no rosto e partimos. Não te liguei muito, nem sequer reparei no teu olhar, quente, meigo e cheio de ternura para dar. Achei que serias mais um amigo. Apenas isso. Assim simples, porque a porta do amor era uma porta enferrujada para mim. Não a abria há muito tempo. Tinha medo que por essa porta entrasse o sofrimento, a dor, as lágrimas e os apertos no peito que me fariam sufocar. Mas tu, com toda a calma que te é característica sorrias para mim e o teu olhar, tão meigo, tão doce e tão suave embalava-me. Fazia-me ir por caminhos que eu recusava.

Trocámos algumas palavras no meio daquela multidão. Algumas delas sem nexo! Seguraste na minha mão e lentamente levaste-nos a afastar da multidão.

-Onde vamos? – Perguntei entre risos.

-Abrir portas! – Respondeste-me meio sério meio a brincar.

Parámos em frente ao mar, este sussurrava. Nos teus olhos vi a chave que abriria a tal porta enferrujada que era o meu coração. Por momentos estremeci. Levaste as tuas mãos ao meu rosto e os teus lábios começaram a formar um sorriso.

-É preciso dizer mais?

Abanei a cabeça. –Não! Claro que não! – E beijei-te.

Os teus olhos tinham dito o suficiente para acalmar os meus medos e o teu beijo tinha aberto a porta. Não havia razões para ter medo do teu amor. Ele tinha chegado suave! E agora que a porta estava aberta eu queria viver todos os momentos contigo. Ia deixar-te entrar, a ti e à felicidade que te acompanhava! E com tudo aprendi que até mesmo as portas enferrujadas podem ser abertas!

Mini conto :)

21.10.16, Marta Velha

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Mini conto :)

20.10.16, Marta Velha

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Só porque sim :)

19.10.16, Marta Velha

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Liberdade! :)

17.10.16, Marta Velha

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O que ando a ler? :)

13.10.16, Marta Velha

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Foi por amor! :) Mini conto

12.10.16, Marta Velha

“-Foi um milagre! Ele acordou…”

“-Vais contar-lhe?”

Sofia olhou para Ângela. “-Não tenho coragem!”

“-Esteve em coma dois anos! Tem direito a saber o que fizeste por ele!”

“-Nem sei se ele se lembra de mim!”

“-Tens de contar-lhe tudo! Ele merece saber. Lembrando-se ou não de ti. Tu estiveste sempre lá. Dois anos seguidos.”

Sofia tentou acalmar-se entrou no quarto onde um paciente ainda muito debilitado descansava. Os exames revelaram que estava tudo bem com Guilherme. Respirou fundo.

Olhou para o rosto cansado dele e sorriu. A sua vontade era tocar-lhe como tantas vezes fizera. Conversar com ele sem obter resposta!

“-Como se sente?”

“-Confuso, dorido, cansado e com fome!”

“-Tudo isso é normal.”

“-Não me consigo lembrar de nada. O médico disse que fiquei em coma após um acidente de carro. Quando fecho os olhos lembro-me de fragmentos de conversas que tive com alguém…”

Sofia gelou. “-Pode ser só a sua imaginação!”

Guilherme fez um ar confuso. Tudo parecia nítido demais para ser só imaginação. “-Recebi visitas nestes dois anos?” – Perguntou a medo.

Sofia respirou fundo. “-Estiveram cá amigos seus, depois deixaram de aparecer. A sua família é que vem com mais regularidade.”

“-Eu tinha noiva…”

Sofia agitou o tubo do soro e olhou-o, amava-o em segredo. Será que lhe deveria falar da carta? Não podia…

“-A sua família explicar-lhe-á tudo…”

O irmão de Guilherme entrou no quarto e abraçou-o. Há muito que tinha perdido as esperanças na sua recuperação. Contou-lhe tudo o que se passara naqueles anos.

“-E ela simplesmente desapareceu…”

Guilherme estava confuso.

“-Havia alguém que falava comigo diariamente com amor… Que tratava de mim… Juro mesmo que me pegava na mão.”

Sofia entrou no quarto, sorriu.

José sussurrou ao ouvido de Sofia. “-Foi por amor que o fez?”

Sofia olhou para Guilherme com ternura. “-Foi…”

O que me resta... :) Mini conto

09.10.16, Marta Velha

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     Restava explicar tudo outra vez. Há quanto tempo estavam assim? Dois anos? Sim, talvez! Mas que importava isso quando para trás estavam mais de sessenta?

     Maria tinha alzheimer há mais ou menos dois anos. Mas lá no fundo José sabia que ela ainda o amava. Às vezes perguntava quem ele era. E ele respondia sempre a mesma coisa: aquele a quem roubaste o coração! Depois Maria sorria e voltava a ficar num mutismo que o assustava. José acreditava que durante aquele mutismo ela pensava nas longas horas de amor, nos passeios de mão dada, nos beijos dados ao luar, nas juras eternas de amor. Se a amava? Sim ainda a amava.

     José cuidava dela como quem cuida de uma jóia preciosa. E aquela situação doía-lhe muito. Havia dias em que Maria estava tão bem que ele achava que o médico se tinha enganado, outros… Bem, noutros dias ela nem sabia o que era um garfo. E a José restava explicar com todo o seu carinho o que era e para que servia. Às vezes viam fotos juntos, fotos de muitos momentos vividos juntos, fotos dos filhos, fotos dos netos. Maria recusava-se a responder às perguntas de José. Mas ele não se importava. Sabia que no dia seguinte ela iria estar melhor e responderia com amor que eram os dois em lua-de-mel. Que eram os filhos na escola. Que eram os anos dos netos. Que era a vida deles ali naqueles pedaços de papel coloridos. Por isso José esperava….

     E esperava, afinal o resto da vida era tudo o que lhe restava.

Quando abrires os olhos verás! :) mini conto

08.10.16, Marta Velha

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     Margarida caminhava pela rua calmamente. Olhava as montras, precisava de dois presentes. Um para Francisco, outro para Filipe. Pai e filho faziam anos no mesmo dia.  

     Tinham sofrido para serem pais! Dez anos de desespero, mas finalmente chegou a notícia, estava grávida!

    Ouvia um som distante. “-O meu telemóvel.” – Procurou-o na mala e ficou admirada ao ver um papel. Abriu-o e leu uma mensagem que a deixou pensativa. ‘Quando abrires os olhos verás’

     “-Que estranho!” – Deitou fora o papel. Atendeu o telemóvel e perdeu-se na conversa.

      A casa estava cheia de alegria. Crianças corriam felizes pelo jardim. Francisco conversava com alguns convidados. Margarida apanhou um papel do chão e ficou paralisada com o que leu.

‘Quando abrires os olhos verás. Filipe é parecido com quem?’

     Nunca achou Filipe parecido com o pai! Guardou o papel no bolso, falaria com Francisco mais tarde.

      Sentada no sofá bebericava vinho tinto. Francisco beijou-a no rosto.

     “-Que dia!”

    Margarida olhou-o. “-O menino estava tão feliz!” – Sorriu. “-Com quem o achas parecido!”

     “-Com a mãe!”

     “-Comigo? Não acho!” – Tirou o papel do bolso. “-Encontrei isto…”

     “-Onde?”

     Margarida ficou perturbada. “-Queres explicar-te?”

     Francisco olhou-a. Apenas duas pessoas sabiam a verdade. Ele e Sofia.

     “-Margarida…” – Sentou-se. “-Menti-te…”

     “-Mentiste?”

     “-O Filipe é parecido com quem?”

     “-Disseste que era parecido comigo!”

     “-Repete as minhas palavras!”

     “-Disseste que…Que era parecido com a mãe…”

     “-Abre os olhos e verás…Desculpa… Desculpa meu amor…”

     Margarida limpou as lágrimas. Não estava a perceber.

     “-O teu parto correu mal. O bebé…”

   “-Não!” – Gritou.

     Tinha que contar tudo. “-Tive um caso com a Sofia, engravidei-a. Depois tu engravidaste. Ela não queria o bebé. Os partos aconteceram no mesmo dia… O nosso bebé morreu… Ela aceitou trocar os bebés…”

     Margarida achou que estava a viver um pesadelo! “-Vai embora, nunca mais me apareças! O Filipe é meu!”

O que o teu silêncio me gritava! :) Mini conto

07.10.16, Marta Velha

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     Todos os dias à mesma hora me sentava no mesmo banco de jardim. Sentava-me, olhava em redor e depois abria o livro que me servia de companhia. Nunca antes tinha reparado em ti. Nunca! Até ao dia em que estavas sentado no lugar que eu tinha como meu! Só meu e do livro que me servia de companhia. Olhei-te com desprezo, queria que te fosses embora! Afinal estavas no meu lugar. Esboçaste um sorriso, esforçaste-te por me olhar com alegria. Na altura não o notei, mas à noite... No silêncio da noite, onde as palavras dançam em redor da nossa cabeça, onde os mais estranhos sons parecem uma música suave, onde a nossa mente passeia em torno do que se passou durante o dia... Notei... Notei que me olhavas com alegria, notei que tinhas esboçado um sorriso. Reparei no que o teu silêncio gritava! Querias-me ali, querias-me a teu lado! Mas eu fui embora! Regressei no dia seguinte... À mesma hora. Desta vez não te olhei com desprezo. Estudei-te os gestos. Ouvi novamente os gritos do teu silêncio.

     "-Posso?" - Perguntei-te a olhar para o banco.

     Inclinaste o rosto, talvez para me veres melhor. Sorriste. Oh, como amei o teu sorriso. Um sorriso rasgado, já não era um esboço. Era sincero!

     "-Sim, claro que sim!" - Respondeste num entusiasmo que eu nunca conhecera em ninguém.

     Foi assim durante uma semana. As parcas palavras trocadas entre nós resumiam-se a um 'posso' e a um 'sim, claro que sim'.

     Mas ganhaste coragem, ganhaste coragem e falaste do tempo! Olhei-te de lado! O tema era tal banal!

     "-Hoje está um dia quente! Finalmente o calor resolveu aparecer."

     "-Humm, humm." - Foi tudo o que me atrevi a responder.

     Mas foste persistente e no dia seguinte as mesmas frases... Não te olhei de lado, olhei-te nos olhos. Brilhavam, um brilho que me aqueceu a alma, que me fez sonhar. Agora ansiava por aquelas parcas palavras, estava sedenta delas. Queria mais... Muito mais!

 

     Hoje, ao fim de sete anos, sentamo-nos no mesmo banco. Chegamos de mãos dadas. Sabia que te iria amar até à eternidade quando te olhei nos olhos. Não és de muitas palavras mas o teu silêncio fala comigo, diz-me tudo o que preciso! Ainda hoje o teu silêncio me diz que me ama! Ainda hoje falas do tempo. Ainda hoje me amas. Ainda hoje amamos aquele banco que nos uniu.