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Marta Velha - Writer

Marta Velha - Writer

Quatro estações! :) Mini conto

29.07.17, Marta Velha

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     Já é Verão! Sei que é… Sinto o calor, ouço a brisa suave lá fora. As crianças riem e sei que correm! Abre a janela por favor! Quero ter o prazer de olhar lá para fora! Que maravilha é fechar os olhos e sentir os raios de sol no meu rosto. Já vais embora? Fica mais um pouco, por favor!

     Olho para o teu rosto e hoje pareces-me tão triste. Não sei se fiz alguma coisa que te magoou. Tenho vergonha de te perguntar. Não sei qual será a tua resposta. Olhas-me triste, dás-me um beijo e partes. Vou ficar aqui com aquelas antipáticas! Eu nem me lembro do nome delas! Argh! Que raio de emprego este! Devia-te ter dito que odiava este trabalho. Talvez assim não me olhasses com esses olhos. Talvez assim me percebesses! Não importa. Vou ficar a olhar pela janela. Gosto de ver as crianças a brincar! Gosto de ouvir as suas gargalhadas! Gosto do cheiro do Verão! Ah e gosto dos raios de sol no meu rosto.

     Não sei se alguma vez te disse que adoro as visitas que me fazes! Ah e aquele livro que estavas a ler? Despertou-me curiosidade. Não me lembro se to pedi emprestado. Sei que estivemos horas a falar daquelas personagens. O par romântico quase que me fez chorar. Falaste com tanto entusiasmo da rapariga! Na altura quase que senti ciúmes mas depois apercebi-me que nós também temos uma bonita história de amor! Adoro quando me sorris! Ah e o som da tua gargalhada? Meu Deus! Arrepio-me só de pensar nela! Mas por falar nisso, já não te ouço a gargalhar há muito tempo! Que se passa contigo Frederico? Já foste embora mas ainda sinto o calor das tuas caricias no meu rosto. Ainda sinto o beijo suave que me deste. Nunca foste de muitas palavras. Sempre foste de actos! E é isso que me faz amar-te. Estás com problemas no trabalho? Queria tanto ajudar-te. Mas como o posso fazer se nem eu gosto do que faço?

     Não faz mal! Prometo que amanhã quando vieres que te farei rir! Vou lembrar-me das parvoeiras que estas minhas colegas antipáticas fazem! Vou contar-te tudo! Tenho a certeza que vais soltar uma gargalhada! Ah e vamos falar de livros! De histórias românticas! Ou talvez daquele livro de terror que sempre tive medo de ler! Não interessa! Interessa que vamos falar, falar e dar uma gargalhada! Vou dizer que te amo. Há tanto tempo que não o digo! E isso envergonha-me. Humm, acho que sonhei! Mas no outro dia tive a sensação que me sussurraste ao ouvido essa palavra maravilhosa que diz tanto!

 

     O tempo anda a passar tão rapidamente! Acreditas que não me lembro da última vez que saímos juntos? Foi há quanto tempo? Oh, estás a ler desculpa! Adoro quando me olhas com esse olhar apaixonado. Fico tão derretida! Mas vá, continua a ler. Não te quero interromper. Ah e se fossemos aquele restaurante japonês? Adoramos partilhar o sushi! E quando comemos com aqueles maravilhosos pauzinhos? Lembras-te da primeira vez que o fizemos? Ah a tua gargalhada outra vez! Oh Frederico é tão bom ver-te a sorrir! Amo-te, amo-te, amo-te! E não estivesses tu tão entretido na leitura dava-te um abraço! Podia ficar assim horas! Abraçada a ti, sentir o teu calor! Sei o que farias. Ias ajeitar-me o cabelo! Ias sorrir para mim! Ias mordiscar-me a orelha! E a seguir ias beijar-me como só tu sabes fazer! As tuas mãos iam passear pelas minhas costas! Ah, é tão bom amar-te e saber que também me amas! Mas estás a ler! Olha lá, não era melhor fechar a janela? Ainda ontem era Verão e já estamos no Outono. Já não há tantas crianças lá fora! Mas eu andei lá fora a brincar com elas! Nem te contei! Andei a correr entre as folhas amarelecidas! Ouvi-las a estalar debaixo dos meus pés foi maravilhoso! E o vento a bater-me no rosto foi tão libertador! Parece-me que me libertei de tudo que era mau! Adoro as crianças! Acho que nunca falámos disto, mas o que achas de termos um filho? Oh, vá lá! Não me olhes com essa cara! Eu sei que não é assunto que se tenha enquanto estás a ler! Desculpa! Pronto, prometo que vou ficar calada enquanto lês!

  

     Mas que frio! Eu bem que esfrego os braços, mas o frio parece que me penetra nos ossos! Este casaco que me ofereceste é maravilhoso. Não me lembro muito bem qual foi a ocasião em que mo deste, mas isso não importa. Estás mais magro! Que se passa Frederico? Estás aqui a agarrar a minha mão, a acariciá-la mas tão calado! Está tudo bem contigo? Eu compreendo meu amor, a sério que sim! Também tenho uma colega que me faz a vida num inferno! É a Madalena! Não te contei? Oh meu Deus! É má! É mesquinha! Finge-se minha amiga mas lá no fundo sei que me quer lixar a vida! Enfim! Já não lhe ligo! E quando vem aqui ter comigo ignoro-a! Entra muda sai calada mas eu faço igual! Irrita-me pessoas como ela! Mas não vamos falar de coisas que me irritam. Vamos falar daquela viagem que queríamos fazer por esta altura. Já viste como o tempo passa rápido! Falta um mês para o Natal! Oh meu Deus! Ando a pensar nas prendas que irei comprar. Nunca sei o que comprar! E depois ando numa correria de última hora! Mas é divertido! Ah estás a sorrir! Diz-me que também te lembraste daquela camisola com a cara de rena que te comprei? Oh claro que te lembraste!! Amo-te!

     Desculpa, mas vou até à janela. Está a chover! E sabes bem como adoro ver a chuva a cair! O vento a fustigar as árvores! As folhas a rodopiarem no chão! Ah, mas hoje temos música? Não acredito!! Oh! Vivaldi! Diz-me que foste tu que pediste esta música para me animar? Oh meu amor! Sim, eu sei o nome da música! Calma, vou lembrar-me! Se fechar os olhos e ouvir bem estes violinos… Oh claro! Four Seasons! Mas tem tudo a ver! Se vieres à janela verás como o vento dança ao sabor desta música! E as folhas? Primeiro a rodopiar rápidas agora mais lentas! Oh! Tenho a certeza absoluta que foste tu que pediste música! Aposto em como a Madalena vai reclamar! Aposto! Ela deve odiar este tipo de música! Mas que odeie! Importa que nós gostamos. Vá, vamos ficar aqui na janela, até o tempo adora esta música. Tão suave agora! Fecha os olhos e sente! Maravilhoso! Sempre gostei de violinos! Até andei a aprender a tocar! Nunca fui muito longe. Os meus pais tinham esperanças que eu fosse alguém na música. Nem sei bem porque é que desisti. Mas não importa…

     Com esta música só me apetecia estar em casa contigo. No nosso sofá. Já estivemos assim tantas vezes. Deitados, a namorar, numa troca de beijos, de caricias. Numa troca de amor! Oh, Frederico como te amo! Mas estás tão distante! Vá, acaba lá de ler o teu livro. Eu vou ficar aqui a ouvir a música suave. Só me apetece rodopiar ao som destes violinos. Mas tenho que evitar! Se a Madalena me apanha! Vá, não te rias! Estou a falar a sério. Podíamos rodopiar os dois! Numa dança como tantas vezes o fizemos! Olha, lá fora, na chuva! Era maravilhoso! Já vais embora? Eu compreendo, vai lá. Vou ficar aqui a ver-te. Sim, claro que te aceno! Voltas logo, não voltas? Logo a Madalena não estará por cá! Também te amo. Ah deixa a música a tocar! Sempre posso imaginar que estou lá fora a rodopiar.

 

     Vá lá! Vamos até lá fora! O tempo já aqueceu! Tenho a certeza que posso fazer uma pausa de dez minutos! Bebemos um cafezinho! Vá lá! Anda! Já há pássaros! E aquelas flores? Já as viste bem? E se apanhássemos umas margaridas? Podia deixá-las aqui junto a mim! Assim, sempre que estivesses ausente, lembrar-me-ia de ti! Vá lá Frederico, vamos! Está bem, quando me olhas assim derretes-me! Eu espero! Mas já é Primavera! Sabes o que me apetecia fazer? Correr descalça por aquela maravilhosa relva! Está bem, eu espero mais uns dias! Tens razão. Amo-te!

 

  

     “-Boa tarde Frederico? Como está?” – Olhou-o com pena. Há quanto tempo é que estavam naquela situação? Quatro estações! Um ano! “-Um novo livro?”

     “-Sim!” – Suspirou. “-A Fátima sempre gostou de ler!” – Esboçou um sorriso triste. “-Como é que ela está hoje?” – Segurou a mão de Fátima.

     “-Gostava imenso de lhe dar uma notícia diferente da de ontem! Mas infelizmente não posso mentir! Está igual! Há situações de doentes que ficam em coma anos e depois…” – Ficou em silêncio enquanto o via a carregar no botão do leitor de CD’s. “-Vejo que seguiu a minha recomendação e trouxe música!”

     Frederico sorriu. “-Ela toca muito bem violino. E esta peça de Vivaldi é uma das suas preferidas! Chama-se Four Seasons.” – Olhou para a doutora Madalena. “-Precisamente o mesmo tempo em que ela está presa a esta cama. Quatro estações!” – Tinha os olhos marejados de água. “-Há esperanças?”

     A doutora rabiscou algo na ficha de Fátima. “-É Primavera! É tempo de esperanças! De renovações! Não perca esse amor que lhe tem! Porque tenho a certeza que é isso que a agarra à vida!”

     Frederico ajeitou o livro na mesinha de cabeceira. Acariciou a mão de Fátima, ajeitou-lhe o cabelo como fazia tantas e tantas vezes, beijou-a na testa e sorriu.

 

  

     Vá lá Frederico! Vamos até lá fora! Não perguntes à Madalena se posso! Ela vai dizer-te que não! Vá! Vamos dançar ao som desta Primavera! Mas já vais embora? Fica mais um pouco. Dança comigo! Pronto está bem, eu deixo-te ler sossegado. Mas depois promete-me que vamos correr descalços pela relva! Amo-te!

Confissão! :) Mini conto

28.07.17, Marta Velha

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     Arnaldo entrou na casa, admirou-se por a porta estar aberta. Olhou para as luzes que estavam apagadas e era isso que era estranho. Não ouviu nenhum tipo de som apesar de estar atento. Era estranho a Dona Felicidade não ter a televisão acesa. A Dona Felicidade nunca prescindia da companhia da televisão.

     “-Rex?” – Chamou o cão da senhora mas este não reagiu ao seu chamar.

     O chão estava sujo com algo que lhe pareceu peganhento. Havia pequenas manchas em todo o lado.

     “-Dona Felicidade. Está em casa?”

     Arnaldo sentiu um cheiro estranho no ar. Pousou os sacos na mesa da cozinha e olhou em redor. Faltava ali alguma coisa. Mostrava-o na cara que fazia. Conhecia a Dona Felicidade desde que começou a trabalhar no centro de dia como ajudante, havia uns cinco anos. Dona Felicidade era viúva há mais de quinze anos, não tinha família e Arnaldo acabou por ser o filho que ela nunca teve. Será que se tinha sentido mal?

     Percorreu o corredor que ia da cozinha até à sala. Mais manchas peganhentas no chão. Tocou numa das manchas e esfregou o líquido entre os dedos. Sangue!

     “-Dona Felicidade! A senhora está bem?”

     Arnaldo correu pelo corredor escuro e ali estava o corpo. Arnaldo não pensou duas vezes. Ajoelhou-se ao lado do corpo da velha senhora. O corpo estava cheio de sangue, uma faca grande de cozinha ainda estava cravada no peito. Arnaldo tentou puxá-la mas arrependeu-se quando ouviu o som da carne a rasgar. Olhou em redor. Havia sangue pelo chão, na parede uma mão pintada como se ela tivesse tentado apoiar-se. Havia sangue junto da mesinha onde o telefone repousava. O pequeno telefone banco estava cheio de sangue.

     Arnaldo ficou ali ajoelhado junto do corpo. Chorava. Tinha as mãos manchadas de sangue, a sua camisa também estava toda suja. O sangue estava por todo o lado…

     A porta de entrada bateu com força e a polícia entrou.

     “-Ela já estava morta! Não pude fazer nada!!” – Arnaldo falava quase num sussurro. “-Ajudem-na!”

     “-O senhor está detido…”

     Um polícia ajudou Arnaldo a levantar-se.

     “-Eu não fiz nada…”

     “-Vou ler-lhe os seus direitos. Está a perceber-me?”

     Arnaldo estava em choque. Aquela mulher que tão bem o tratava estava morta. Agora a polícia estava a levá-lo e ele não entendia porque.

 

 

 

     “-E é tudo isso que tem para confessar diante deste tribunal?” – O juiz tirou os óculos e olhou para o réu Jacinto Silva.

     “-Não!” – Jacinto tinha a mesma voz isenta de qualquer sentimento.

     “-Preciso de confessar tudo! Tudo!” – Respirou fundo. “-O Arnaldo está inocente e… Já esteve tempo demais atrás das grandes por algo que não fez!”

     “-E porque só agora a sua confissão?”

     “-Porque a Dona Felicidade atormenta-me de noite! Porque vi a luz! E a luz mostrou-me que este era o caminho…” – Baixou a cabeça.

     “-Acabe a sua confissão…”

     “-Confesso… Confesso que andava a rondar a casa daquela senhora há algum tempo. Conhecia-lhe todos os passos. Era uma mulher de rotinas. Sabia a que dias ia lá o Arnaldo. Mas naquele dia ela alterou tudo! Tudo!! Não era suposto estar em casa! Nem era suposto o Arnaldo ir lá! Confesso que não tinha intenção de a matar. Precisava apenas de dinheiro!” – Levantou os olhos para o tribunal. “-Mas ela quando me viu começou a gritar muito alto. E eu assustei-me! Peguei na faca e fui na direcção dela! Apenas queria que ela não gritasse! Supliquei para que ela se calasse! Mas ela gritou muito. Ela ainda estava com vida e pegou no telefone para ligar para o 112. Eu fiquei muito aflito. Havia sangue por todo o lado! Muito sangue! Eu fugi. Mas fiquei de longe a ver tudo pela janela! E depois apareceu o Arnaldo! Não estava ainda na hora de ele ir lá a casa! E tentou ajudá-la! Tentou tirar a faca e fazia um ar aflito e assustado com tudo! E depois apareceu a polícia! E o sangue… Era tanto sangue!”

     “-Tem noção que a sua confissão lhe vai dar direito a muitos anos de prisão?”

     Jacinto olhou para o juiz. Só se lembrava do sangue nas suas mãos, na sua roupa, nos seus pés. Sangue! Tanto sangue que havia.

     “-Para ter a paz que a luz me prometeu precisava desta confissão…”

     “-E tem mais alguma coisa a acrescentar à sua confissão?”

     “-Não… Isto é tudo o que confesso.”

Confesso! :) mini conto

27.07.17, Marta Velha

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     Confesso que o que sinto por ti é maior que o tamanho do mundo. Confesso que talvez tenha sido a primeira a perceber deste tão grande sentimento. Amo-te. Já não me custa a confessar tal coisa. Amo-te e ponto final é assim, talvez não tão simples como possa parecer.

   Mas agora estamos os dois juntos e confesso que espero que o seja para sempre. Para além dos tempos…

   Lembro-me tão bem do nosso primeiro encontro.

 

 

   O dia estava lindo. Como tantos dias de Verão, o sol raiava no céu azul, a brisa parecia que tinha tirado o dia de folga. Eu sentia-me bem no meu top cor-de-rosa e na minha mini-saia de ganga. Agora tenho que te confessar que demorei imenso a escolher a indumentária.

   A meu lado pousava um livro. Confesso que não fazia tenção nenhuma de o ler. Confesso que o tinha a meu lado talvez para disfarçar o nervosismo que se pudesse a vir apoderar de mim.

   Já tínhamos falado tantas vezes. Milhões delas! Trocámos tantas palavras. Tantas! Mas naquele dia na eminência de te ver… Oh, confesso que estava tão nervosa. Não sabia que dizer, que fazer, como agir. E se afinal a tua voz não fosse tão sensual ao vivo como era pelo telefone? Confesso que me apaixonei pela tua voz. Era tão suave ao ouvido como o coro de crianças a cantar. Confesso que ao ouvir-te só tinha vontade de estar contigo. E o som da tua gargalhada? Tenho que te confessar que esse som até a mim me alegra. Faz-me arrepiar de tão alegre que é.

   E ali estava eu naquela esplanada à tua espera. Confesso que tive medo que estivesses algures entre a multidão a olhar para mim. Será que estiveste ali a espiar-me? É que se sim confesso que não saberia como agir.

   Olhei em redor, já tinha visto a tua foto centenas de vezes, será que te iria reconhecer entre a multidão que passeava descontraída? Olhei mais uma vez. Devo confessar-te que o meu coração disparou. Batia acelerado como se fosse um cavalo de corrida que estivesse pronto a atingir a meta. Oh, vi um homem alto, bem-parecido, de cabelos claros, estava de costas. Quando os olhos dele encontraram os meus vi que não eras tu. Confesso que nos olhos daquele estranho não estava o brilho que um dia vi nos teus. Naquela primeira foto, sabes a qual me refiro? Oh, confesso que aquele teu sorriso era maravilhoso. Cheio de vida. Tinhas o cabelo desalinhado o que te dava um ar de maroto mas tão bom!

   Vi alguém a aproximar-se, tentei disfarçar com o tal livro que não fazia tenção nenhuma de ler. Quando os meus olhos se levantaram devagarinho encontraram os teus. Confesso que fiquei com uma vontade enorme de chorar. Chorar de alegria! Claro! Porque afinal existias. Porque afinal estavas ali. Porque afinal tinhas vindo ter comigo…

   Sorriste para mim e apercebi-me que o sorriso não era dado apenas para as câmaras, aquele que tinhas acabado de dar era para mim. Só meu. As tuas primeiras palavras foram engraçadas.

   “-Confesso que é estranho estar aqui… Mas ainda bem que vim!”

   Levantei-me a custo e abracei-te. Abracei-te para te sentir, com medo que afinal fosses apenas uma ilusão.

   Confesso que desde aquele momento que te amo. O teu calor, o teu cheiro perseguem-me todos os dias.

   Mas para que estou eu aqui com estas confissões? Os meus actos falam por mim, não falam? Sabes que te amo, não sabes?

   Agora estamos juntos todos os dias. Os nossos corpos enroscam-se como se fossem um só. O calor que emana de ambos aquece-me até à alma. Fundem-se em cheiros e em sabor. Quando a tua boca me saboreia confesso que me sinto nas nuvens. És meu. E tenho que confessar que sou tua. Sou tua desde o primeiro dia que te ouvi. Desde o primeiro dia que te vi ali junto a mim. Confesso que sou tua desde que os nossos corpos dançam aquela dança nua como se fossem um só.

   E depois destas recordações nada mais há a confessar a não ser ‘amo-te’.

Amor doentio! :) Mini conto

26.07.17, Marta Velha

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     Olhou-a fixamente enquanto ela se dirigia para a sala das fotocópias. Aquele vestido em tons de rosa assentava-lhe muito bem. Todas as suas curvas ficavam bem delineadas. Sabia exactamente quando ela o comprara, em que loja e em que outras ocasiões o usara. Pegou no telemóvel e viu as fotos. Sabia muito bem que tinha fotos dela com aquele vestido! Precisava de as rever. Sorriu. Estava divinal, como sempre! Ela era tudo com que sempre sonhara e ia ser sua! Tinha que ser! Pegou na flor branca que trouxera escondida e sem que ninguém se apercebesse colocou-a na sua secretária. Ela adorava flores, sabia bem que sim! Sabia que ela ia cheirá-la, olharia em redor querendo descobrir quem a deixara, depois iria colocá-la no teclado e ficaria ali até murchar, ser deitada ao lixo e receber outra!

     Vanda trazia nos braços o que lhe parecia uma tonelada de fotocópias. Viu a flor em cima da secretária e olhou em redor. Ao início achou piada à brincadeira e perguntou pelo escritório quem tinha sido, ninguém se acusou. Mas agora que recebia telefonemas a meio da noite onde nada era dito e também recebia mensagens anónimas a elogiar o que tinha feito durante o dia e a perguntar se gostara da flor, toda a piada tinha sido perdida!

     “-Ana, por acaso viste quem deixou aqui a flor?”

     A colega olhou-a admirada. Estaria a falar de quê? “-Não! Não vi ninguém a deixar aí nada. Mas não é a primeira vez que recebes uma, pois não? De certeza que é algum admirador secreto!” – Sorriu.

     Vanda olhou em redor. Trabalhavam ali cerca de 80 pessoas. Podia ser qualquer um! Havia também pessoal externo que entrava e saía constantemente. Ficara assustada quando Ana alegara ‘admirador secreto’. Mas para quê alarmar-se, era só uma flor. Desta vez não a cheirou. Pousou-a no teclado. Respirou fundo. Precisava de mudar de assunto.

     “-Já sabes onde vai ser a festa de Natal deste ano?”

     Ana sorriu. Se havia novidade a circular pelo escritório ela sabia. “-Claro que sei! Parece que este ano abriram os cordões à bolsa! Será num hotel no centro da cidade. Comida e bebida à descrição e…” – Esbugalhou os olhos. “-Para loucura total haverá uma banda de música portuguesa ao vivo!!” – Esboçou um sorriso de orelha a orelha.

     Vanda sorriu. Era sem dúvida alguma uma excelente notícia. “-Isso é muito bom! Já sabes o dia?”

     “-O que é que achas?” – Sorriu enquanto olhava a colega e brincava com uma caneta.

     “-Vá lá, diz então! Acho que vou comprar um vestido novo para essa altura!”

     “-É no dia 19, temos que estar lá por volta das oito da noite. Pelo que sei temos que vir trabalhar e depois partilhamos boleia até lá!”

     “-O ideal seria partilhar boleia com quem não bebesse! Assim podíamos estar muito à vontade para beber até cair!” – Piscou o olho à colega e sorriu.

     “-Olha, não tinha pensado muito nisso. Mas é uma excelente ideia!”

     Olhou para Vanda novamente. Ela era sempre tão simpática com todos. E aquele sorriso era divinal. Amava-a e Vanda tinha que ser sua. Sabia que devido à sua timidez talvez nunca se declarasse convenientemente mas Vanda era perspicaz, já tinham falado imensas vezes sobre relações. Tinha a certeza que ela também nutria algum tipo de sentimento por si. Quais tinham sido as palavras exactas dela? ‘O amor nasce de uma grande amizade!’ – Tinham uma amizade grande, não tinham? Logo, dali nasceria um grande amor!

 

     Vanda sentia-se observada e a sensação era horrível! Sabia que estava sozinha no escritório, infelizmente tinha-se esquecido ali do seu telemóvel e tivera que voltar. Assustou-se com o que lhe pareceu passos.

     Olhou em redor, o coração batia descontrolado. “-Quem está aí?”

     Novamente aquele barulho! Olhou em redor. De um dos gabinetes uma luz ténue parecia chamar por si. Tentou ficar mais atenta para tentar perceber se não seria um ruído da noite. “-Quem está aí?” – Perguntou agora mais assustada. Levou a mão ao peito quando viu a sombra a aparecer do corredor. Sorriu. Que parva por pensar noutra coisa.

     “-Assustaste-me!” – Pegou no telemóvel que estava na sua secretária. Viu ali outra flor. Tentou não se perturbar. Olhou para o telemóvel. Três mensagens do mesmo número.

     “-Não era minha intenção fazê-lo! Desculpa.” – Olhou para Vanda. Como era bonita. E assim assustada, de bochechas rosadas e de peito a arfar ainda era mais bonita. “-Não vais cheirar a flor?”

     Vanda olhou fixamente para quem estava na sua frente. “-Como é que sa…” – Esbugalhou os olhos quando Maria se aproximou de si com um lenço na mão esfregando-o no seu nariz.

     Maria acariciou-lhe o rosto. Como a amava. E agora estavam ambas livres. “-Oh meu amor! Desculpa! Desculpa pelo que te faço. Mas amo-te há tanto tempo! Agora vamos ser felizes. Sei que também me amas! Sei que sim! Tu mesmo disseste que os homens são uma porcaria! E gostas tantos das flores que te envio! E somos amigas! Da amizade nasce o amor! O amor verdadeiro. Vais ser minha! Só minha!”

     Vanda gemia baixinho. Não sabia o que continha o lenço, mas sentia-se sonolenta e sem forças. “-Maria…” – Gemeu num sussurro.

     “-Chsst! Eu sei meu amor, eu sei! Queres tanto isto como eu. Vamos ser tão felizes! Aluguei uma casa só para nós! Ficarás na cave. Sei que ao início vais estranhar mas não posso arriscar que te roubem de mim! Nada disso! Terás flores todos os dias! Flores lindas! Não tão lindas como tu!”

     “-Não podes…” – Mais um gemido.

     “-Oh minha querida, anda vamos.” – E ajudou Vanda a levantar-se arrastando-a pelos corredores.

 

     Vanda acordou assustada. Sentia que tinha tido um pesadelo horrível. Tinha uma dor de cabeça que a agoniava. Olhou em redor. Nem se lembrava muito bem de onde estava. Assustou-se quando se apercebeu que estava presa por um tornozelo. Ambientou-se à escuridão e olhou em redor. A divisão era ampla. Não tinha janelas, reconheceu no parco mobiliário algumas das suas coisas.

     “-Não!!” – Gritou desesperada. Não tinha sido um pesadelo. Era real. Olhou para um pequena mesa no canto da divisão. Havia ali centenas de fotografias suas, muitas nem sabia onde tinham sido tiradas. Havia um pequeno cinzeiro com cabelos, nem precisava de adivinhar que eram seus. O que mais a chocou foi as fotos de ex namorados seus completamente riscadas e com o símbolo da morte por cima delas!

     Maria entrou na divisão com um tabuleiro com uma sopa. “-Deves estar exausta! Dormiste três dias! Mas estás com bom aspecto! Vamos ser tão felizes, meu amor!” – E sorriu maliciosamente.

A minha avó! Dia dos avós, 26 Julho! :)

26.07.17, Marta Velha

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     Esta era a minha avó! Entre as duas fotos há uma diferença de mais de 40 anos! A primeira foi tirada quando tinha cerca de 50 anos, a segunda foi tirada a 11 de julho de 2017. A véspera do seu falecimento. Nada o fazia prever, mas aconteceu...

     Não sabemos muito bem o ano em que nasceu! (segundo o BI a sua data de nascimento era 7/9/1926 mas segundo o seu passaporte havia uma diferença de 4 anos! ou seja 7/9/1922) A minha avó nasceu no Brasil e viveu lá até aos seus 6 ou 7 anos. Como antigamente se pagava uma coima por as crianças não serem logo registadas, aconteceu isto. Não que ela se importasse, claro! Acho mesmo que a minha avó parou nos 70 anos! Sempre que lhe perguntavamos a idade a sua resposta era pronta: 70 anos!

     Nestes dias dei por mim a pensar em tudo o que a minha avó me ensinou! E foi tanta coisa! Com ela passeei aos domingos pelo parque, apanhei flores no jardim, plantei batatas, couves, cebolas, nabos, árvores e todo o tipo de flores. Sabia de cor e salteado qual a melhor época para plantar cada uma dessas coisas, sabia como se apanhavam as ervas daninhas, como se regava! Com ela aprendi a gostar de animais. Se na nossa rua aparecesse um cão abandonado era certo e sabido que teria um novo dono e seria muito bem tratado pela senhora dona Candida!

     Nunca teve uma 'profissão', esteve sempre por casa a tomar conta dos seus dois filhos enquanto o marido (o meu avô Augusto falecido há mais de 20 anos) andava pelas ondas do mar em viagens que chegavam a demorar um ano! Mais tarde vieram os netos e também tomou conta destes! E como as forças ainda eram mais que muitas também tomou conta dos bisnetos!

     Adorava fazer trabalhos em costura - saias, casacos, blusas, vestidos! E eu, ali sentada a seus pés aprendia a dar uns pontos e a fazer roupa para as bonecas trazidas pelo meu avô ou pelo meu pai de outras terras! Fazia crochet e daquela linha branca como a neve apareciam naperons, toalhas, colchas, cortinas, chapéus, top's.  

     A minha avó conhecia todos os provérbios... TODOS! Havia sempre um na ponta da língua para nos transmitir um ensinamento qualquer. E não é que batiam sempre certo?

      Faleceu há uns dias, e a saudade ainda aperta. Mas estas recordações que me roubam um sorriso, estas ninguém tirará de mim!

 

     Para todos os avós e para a minha avó em especial (onde quer que esteja!) um bem haja por todos os ensinamentos e gargalhadas arrancadas, a nós vossos netos. E que um dia eu possa ser tão boa avó como a minha foi!

    

    

 

 

Escritor! :)

25.07.17, Marta Velha

E porque hoje é o dia de todos aqueles que escrevem!  Feliz dia

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E os conselhos do dia são... :)

24.07.17, Marta Velha

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Frase roubada! :)

22.07.17, Marta Velha

Gostava dela e, quando se amava uma pessoa ,era necessário fazê-lo sem reservas.

 
 
 
 
 
 
Tiago Rebelo - Romance em Amesterdão 

Volta, volta porque é amor! :)

21.07.17, Marta Velha

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Curtas de amor! :)

15.07.17, Marta Velha

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