Para recordar III! :)
Restava explicar tudo outra vez. Há quanto tempo estavam assim? Dois anos? Sim, talvez! Mas que importava isso quando para trás estavam mais de sessenta?
Maria tinha alzheimer há mais ou menos dois anos. Mas lá no fundo José sabia que ela ainda o amava. Às vezes perguntava quem ele era. E ele respondia sempre a mesma coisa: aquele a quem roubaste o coração! Depois Maria sorria e voltava a ficar num mutismo que o assustava. José acreditava que durante aquele mutismo ela pensava nas longas horas de amor, nos passeios de mão dada, nos beijos dados ao luar, nas juras eternas de amor. Se a amava? Sim ainda a amava.
José cuidava dela como quem cuida de uma jóia preciosa. E aquela situação doía-lhe muito. Havia dias em que Maria estava tão bem que ele achava que o médico se tinha enganado, outros… Bem, noutros dias ela nem sabia o que era um garfo. E a José restava explicar com todo o seu carinho o que era e para que servia. Às vezes viam fotos juntos, fotos de muitos momentos vividos juntos, fotos dos filhos, fotos dos netos. Maria recusava-se a responder às perguntas de José. Mas ele não se importava. Sabia que no dia seguinte ela iria estar melhor e responderia com amor que eram os dois em lua-de-mel. Que eram os filhos na escola. Que eram os anos dos netos. Que era a vida deles ali naqueles pedaços de papel coloridos. Por isso José esperava….
E esperava, afinal o resto da vida era tudo o que lhe restava.