Um bom dia para todos! :)
Porque todos os dias podem ser um bom dia, mesmo os dias de chuva!!
Boa semana para todos!
Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
Porque todos os dias podem ser um bom dia, mesmo os dias de chuva!!
Boa semana para todos!
Porque às vezes a felicidade só depende de nós mesmos! Que seja um excelente dia para todos!
Porque nem sempre estamos atentos às pequenas coisinhas do nosso dia, coisinhas essas que nos podem arrancar um sorriso inesperado...
Desejo-vos um dia cheio de coisinhas, e cheio de motivos para sorrir!
Sejam felizes!!
Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós!!
Antoine de Saint-Exupéry “O Principezinho”
Bom fim de semana para todos! :)
Olhou-a fixamente enquanto ela se dirigia para a sala das fotocópias. Aquele vestido em tons de rosa assentava-lhe muito bem. Todas as suas curvas ficavam bem delineadas. Sabia exactamente quando ela o comprara, em que loja e em que outras ocasiões o usara. Pegou no telemóvel e viu as fotos. Sabia muito bem que tinha fotos dela com aquele vestido! Precisava de as rever. Sorriu. Estava divinal, como sempre! Ela era tudo com que sempre sonhara e ia ser sua! Tinha que ser! Pegou na flor branca que trouxera escondida e sem que ninguém se apercebesse colocou-a na sua secretária. Ela adorava flores, sabia bem que sim! Sabia que ela ia cheirá-la, olharia em redor querendo descobrir quem a deixara, depois iria colocá-la no teclado e ficaria ali até murchar, ser deitada ao lixo e receber outra!
Vanda trazia nos braços o que lhe parecia uma tonelada de fotocópias. Viu a flor em cima da secretária e olhou em redor. Ao início achou piada à brincadeira e perguntou pelo escritório quem tinha sido, ninguém se acusou. Mas agora que recebia telefonemas a meio da noite onde nada era dito e também recebia mensagens anónimas a elogiar o que tinha feito durante o dia e a perguntar se gostara da flor, toda a piada tinha sido perdida!
“-Ana, por acaso viste quem deixou aqui a flor?”
A colega olhou-a admirada. Estaria a falar de quê? “-Não! Não vi ninguém a deixar aí nada. Mas não é a primeira vez que recebes uma, pois não? De certeza que é algum admirador secreto!” – Sorriu.
Vanda olhou em redor. Trabalhavam ali cerca de 80 pessoas. Podia ser qualquer um! Havia também pessoal externo que entrava e saía constantemente. Ficara assustada quando Ana alegara ‘admirador secreto’. Mas para quê alarmar-se, era só uma flor. Desta vez não a cheirou. Pousou-a no teclado. Respirou fundo. Precisava de mudar de assunto.
“-Já sabes onde vai ser a festa de Natal deste ano?”
Ana sorriu. Se havia novidade a circular pelo escritório ela sabia. “-Claro que sei! Parece que este ano abriram os cordões à bolsa! Será num hotel no centro da cidade. Comida e bebida à descrição e…” – Esbugalhou os olhos. “-Para loucura total haverá uma banda de música portuguesa ao vivo!!” – Esboçou um sorriso de orelha a orelha.
Vanda sorriu. Era sem dúvida alguma uma excelente notícia. “-Isso é muito bom! Já sabes o dia?”
“-O que é que achas?” – Sorriu enquanto olhava a colega e brincava com uma caneta.
“-Vá lá, diz então! Acho que vou comprar um vestido novo para essa altura!”
“-É no dia 19, temos que estar lá por volta das oito da noite. Pelo que sei temos que vir trabalhar e depois partilhamos boleia até lá!”
“-O ideal seria partilhar boleia com quem não bebesse! Assim podíamos estar muito à vontade para beber até cair!” – Piscou o olho à colega e sorriu.
“-Olha, não tinha pensado muito nisso. Mas é uma excelente ideia!”
Olhou para Vanda novamente. Ela era sempre tão simpática com todos. E aquele sorriso era divinal. Amava-a e Vanda tinha que ser sua. Sabia que devido à sua timidez talvez nunca se declarasse convenientemente mas Vanda era perspicaz, já tinham falado imensas vezes sobre relações. Tinha a certeza que ela também nutria algum tipo de sentimento por si. Quais tinham sido as palavras exactas dela? ‘O amor nasce de uma grande amizade!’ – Tinham uma amizade grande, não tinham? Logo, dali nasceria um grande amor!
Vanda sentia-se observada e a sensação era horrível! Sabia que estava sozinha no escritório, infelizmente tinha-se esquecido ali do seu telemóvel e tivera que voltar. Assustou-se com o que lhe pareceu passos.
Olhou em redor, o coração batia descontrolado. “-Quem está aí?”
Novamente aquele barulho! Olhou em redor. De um dos gabinetes uma luz ténue parecia chamar por si. Tentou ficar mais atenta para tentar perceber se não seria um ruído da noite. “-Quem está aí?” – Perguntou agora mais assustada. Levou a mão ao peito quando viu a sombra a aparecer do corredor. Sorriu. Que parva por pensar noutra coisa.
“-Assustaste-me!” – Pegou no telemóvel que estava na sua secretária. Viu ali outra flor. Tentou não se perturbar. Olhou para o telemóvel. Três mensagens do mesmo número.
“-Não era minha intenção fazê-lo! Desculpa.” – Olhou para Vanda. Como era bonita. E assim assustada, de bochechas rosadas e de peito a arfar ainda era mais bonita. “-Não vais cheirar a flor?”
Vanda olhou fixamente para quem estava na sua frente. “-Como é que sa…” – Esbugalhou os olhos quando Maria se aproximou de si com um lenço na mão esfregando-o no seu nariz.
Maria acariciou-lhe o rosto. Como a amava. E agora estavam ambas livres. “-Oh meu amor! Desculpa! Desculpa pelo que te faço. Mas amo-te há tanto tempo! Agora vamos ser felizes. Sei que também me amas! Sei que sim! Tu mesmo disseste que os homens são uma porcaria! E gostas tantos das flores que te envio! E somos amigas! Da amizade nasce o amor! O amor verdadeiro. Vais ser minha! Só minha!”
Vanda gemia baixinho. Não sabia o que continha o lenço, mas sentia-se sonolenta e sem forças. “-Maria…” – Gemeu num sussurro.
“-Chsst! Eu sei meu amor, eu sei! Queres tanto isto como eu. Vamos ser tão felizes! Aluguei uma casa só para nós! Ficarás na cave. Sei que ao início vais estranhar mas não posso arriscar que te roubem de mim! Nada disso! Terás flores todos os dias! Flores lindas! Não tão lindas como tu!”
“-Não podes…” – Mais um gemido.
“-Oh minha querida, anda vamos.” – E ajudou Vanda a levantar-se arrastando-a pelos corredores.
Vanda acordou assustada. Sentia que tinha tido um pesadelo horrível. Tinha uma dor de cabeça que a agoniava. Olhou em redor. Nem se lembrava muito bem de onde estava. Assustou-se quando se apercebeu que estava presa por um tornozelo. Ambientou-se à escuridão e olhou em redor. A divisão era ampla. Não tinha janelas, reconheceu no parco mobiliário algumas das suas coisas.
“-Não!!” – Gritou desesperada. Não tinha sido um pesadelo. Era real. Olhou para um pequena mesa no canto da divisão. Havia ali centenas de fotografias suas, muitas nem sabia onde tinham sido tiradas. Havia um pequeno cinzeiro com cabelos, nem precisava de adivinhar que eram seus. O que mais a chocou foi as fotos de ex namorados seus completamente riscadas e com o símbolo da morte por cima delas!
Maria entrou na divisão com um tabuleiro com uma sopa. “-Deves estar exausta! Dormiste três dias! Mas estás com bom aspecto! Vamos ser tão felizes, meu amor!” – E sorriu maliciosamente.
Confesso que o que sinto por ti é maior que o tamanho do mundo. Confesso que talvez tenha sido a primeira a perceber deste tão grande sentimento. Amo-te. Já não me custa a confessar tal coisa. Amo-te e ponto final é assim, talvez não tão simples como possa parecer.
Mas agora estamos os dois juntos e confesso que espero que o seja para sempre. Para além dos tempos…
Lembro-me tão bem do nosso primeiro encontro.
O dia estava lindo. Como tantos dias de Verão, o sol raiava no céu azul, a brisa parecia que tinha tirado o dia de folga. Eu sentia-me bem no meu top cor-de-rosa e na minha mini-saia de ganga. Agora tenho que te confessar que demorei imenso a escolher a indumentária.
A meu lado pousava um livro. Confesso que não fazia tenção nenhuma de o ler. Confesso que o tinha a meu lado talvez para disfarçar o nervosismo que se pudesse a vir apoderar de mim.
Já tínhamos falado tantas vezes. Milhões delas! Trocámos tantas palavras. Tantas! Mas naquele dia na eminência de te ver… Oh, confesso que estava tão nervosa. Não sabia que dizer, que fazer, como agir. E se afinal a tua voz não fosse tão sensual ao vivo como era pelo telefone? Confesso que me apaixonei pela tua voz. Era tão suave ao ouvido como o coro de crianças a cantar. Confesso que ao ouvir-te só tinha vontade de estar contigo. E o som da tua gargalhada? Tenho que te confessar que esse som até a mim me alegra. Faz-me arrepiar de tão alegre que é.
E ali estava eu naquela esplanada à tua espera. Confesso que tive medo que estivesses algures entre a multidão a olhar para mim. Será que estiveste ali a espiar-me? É que se sim confesso que não saberia como agir.
Olhei em redor, já tinha visto a tua foto centenas de vezes, será que te iria reconhecer entre a multidão que passeava descontraída? Olhei mais uma vez. Devo confessar-te que o meu coração disparou. Batia acelerado como se fosse um cavalo de corrida que estivesse pronto a atingir a meta. Oh, vi um homem alto, bem-parecido, de cabelos claros, estava de costas. Quando os olhos dele encontraram os meus vi que não eras tu. Confesso que nos olhos daquele estranho não estava o brilho que um dia vi nos teus. Naquela primeira foto, sabes a qual me refiro? Oh, confesso que aquele teu sorriso era maravilhoso. Cheio de vida. Tinhas o cabelo desalinhado o que te dava um ar de maroto mas tão bom!
Vi alguém a aproximar-se, tentei disfarçar com o tal livro que não fazia tenção nenhuma de ler. Quando os meus olhos se levantaram devagarinho encontraram os teus. Confesso que fiquei com uma vontade enorme de chorar. Chorar de alegria! Claro! Porque afinal existias. Porque afinal estavas ali. Porque afinal tinhas vindo ter comigo…
Sorriste para mim e apercebi-me que o sorriso não era dado apenas para as câmaras, aquele que tinhas acabado de dar era para mim. Só meu. As tuas primeiras palavras foram engraçadas.
“-Confesso que é estranho estar aqui… Mas ainda bem que vim!”
Levantei-me a custo e abracei-te. Abracei-te para te sentir, com medo que afinal fosses apenas uma ilusão.
Confesso que desde aquele momento que te amo. O teu calor, o teu cheiro perseguem-me todos os dias.
Mas para que estou eu aqui com estas confissões? Os meus actos falam por mim, não falam? Sabes que te amo, não sabes?
Agora estamos juntos todos os dias. Os nossos corpos enroscam-se como se fossem um só. O calor que emana de ambos aquece-me até à alma. Fundem-se em cheiros e em sabor. Quando a tua boca me saboreia confesso que me sinto nas nuvens. És meu. E tenho que confessar que sou tua. Sou tua desde o primeiro dia que te ouvi. Desde o primeiro dia que te vi ali junto a mim. Confesso que sou tua desde que os nossos corpos dançam aquela dança nua como se fossem um só.
E depois destas recordações nada mais há a confessar a não ser ‘amo-te’.
Arnaldo entrou na casa, admirou-se por a porta estar aberta. Olhou para as luzes que estavam apagadas e era isso que era estranho. Não ouviu nenhum tipo de som apesar de estar atento. Era estranho a Dona Felicidade não ter a televisão acesa. A Dona Felicidade nunca prescindia da companhia da televisão.
“-Rex?” – Chamou o cão da senhora mas este não reagiu ao seu chamar.
O chão estava sujo com algo que lhe pareceu peganhento. Havia pequenas manchas em todo o lado.
“-Dona Felicidade. Está em casa?”
Arnaldo sentiu um cheiro estranho no ar. Pousou os sacos na mesa da cozinha e olhou em redor. Faltava ali alguma coisa. Mostrava-o na cara que fazia. Conhecia a Dona Felicidade desde que começou a trabalhar no centro de dia como ajudante, havia uns cinco anos. Dona Felicidade era viúva há mais de quinze anos, não tinha família e Arnaldo acabou por ser o filho que ela nunca teve. Será que se tinha sentido mal?
Percorreu o corredor que ia da cozinha até à sala. Mais manchas peganhentas no chão. Tocou numa das manchas e esfregou o líquido entre os dedos. Sangue!
“-Dona Felicidade! A senhora está bem?”
Arnaldo correu pelo corredor escuro e ali estava o corpo. Arnaldo não pensou duas vezes. Ajoelhou-se ao lado do corpo da velha senhora. O corpo estava cheio de sangue, uma faca grande de cozinha ainda estava cravada no peito. Arnaldo tentou puxá-la mas arrependeu-se quando ouviu o som da carne a rasgar. Olhou em redor. Havia sangue pelo chão, na parede uma mão pintada como se ela tivesse tentado apoiar-se. Havia sangue junto da mesinha onde o telefone repousava. O pequeno telefone banco estava cheio de sangue.
Arnaldo ficou ali ajoelhado junto do corpo. Chorava. Tinha as mãos manchadas de sangue, a sua camisa também estava toda suja. O sangue estava por todo o lado…
A porta de entrada bateu com força e a polícia entrou.
“-Ela já estava morta! Não pude fazer nada!!” – Arnaldo falava quase num sussurro. “-Ajudem-na!”
“-O senhor está detido…”
Um polícia ajudou Arnaldo a levantar-se.
“-Eu não fiz nada…”
“-Vou ler-lhe os seus direitos. Está a perceber-me?”
Arnaldo estava em choque. Aquela mulher que tão bem o tratava estava morta. Agora a polícia estava a levá-lo e ele não entendia porque.
“-E é tudo isso que tem para confessar diante deste tribunal?” – O juiz tirou os óculos e olhou para o réu Jacinto Silva.
“-Não!” – Jacinto tinha a mesma voz isenta de qualquer sentimento.
“-Preciso de confessar tudo! Tudo!” – Respirou fundo. “-O Arnaldo está inocente e… Já esteve tempo demais atrás das grandes por algo que não fez!”
“-E porque só agora a sua confissão?”
“-Porque a Dona Felicidade atormenta-me de noite! Porque vi a luz! E a luz mostrou-me que este era o caminho…” – Baixou a cabeça.
“-Acabe a sua confissão…”
“-Confesso… Confesso que andava a rondar a casa daquela senhora há algum tempo. Conhecia-lhe todos os passos. Era uma mulher de rotinas. Sabia a que dias ia lá o Arnaldo. Mas naquele dia ela alterou tudo! Tudo!! Não era suposto estar em casa! Nem era suposto o Arnaldo ir lá! Confesso que não tinha intenção de a matar. Precisava apenas de dinheiro!” – Levantou os olhos para o tribunal. “-Mas ela quando me viu começou a gritar muito alto. E eu assustei-me! Peguei na faca e fui na direcção dela! Apenas queria que ela não gritasse! Supliquei para que ela se calasse! Mas ela gritou muito. Ela ainda estava com vida e pegou no telefone para ligar para o 112. Eu fiquei muito aflito. Havia sangue por todo o lado! Muito sangue! Eu fugi. Mas fiquei de longe a ver tudo pela janela! E depois apareceu o Arnaldo! Não estava ainda na hora de ele ir lá a casa! E tentou ajudá-la! Tentou tirar a faca e fazia um ar aflito e assustado com tudo! E depois apareceu a polícia! E o sangue… Era tanto sangue!”
“-Tem noção que a sua confissão lhe vai dar direito a muitos anos de prisão?”
Jacinto olhou para o juiz. Só se lembrava do sangue nas suas mãos, na sua roupa, nos seus pés. Sangue! Tanto sangue que havia.
“-Para ter a paz que a luz me prometeu precisava desta confissão…”
“-E tem mais alguma coisa a acrescentar à sua confissão?”
“-Não… Isto é tudo o que confesso.”
Linda. Ela é tão linda!
Lembras-te de te ter contado que estas foram as primeiras palavras que disse quando te vi?
Estava com o João. Lembras-te do João, não lembras? O meu amigo! Naquela festa de anos, há quarenta anos…
Tens que te lembrar… Naquela noite dei-te o meu coração.
O João apresentou-nos. Rosa, é esse o teu nome. A minha Rosa, como digo tantas vezes. Disse-me que eras a pessoa mais alegre que ele conhecia, sempre feliz, disse-me que eras professora. Lembras-te dos teus alunos? Havia dois que vinham cá a casa muitas vezes, passar as férias de Verão, lembras-te?
Disse-me que amavas a vida…
E agora aqui estás tu, presa no teu corpo.
Ainda me amas?
Olho para ti e continuo a achar que és linda.
Quarenta anos… Cada ruga do teu rosto tem uma história para contar. A nossa história! As nossas aventuras!
Lembras-te de alguma?
Oh, o dia em que te pedi para saíres comigo!
Era Verão, passei quinze dias a ganhar coragem para te convidar para sair. Precisei mesmo de ganhar coragem!
Até gaguejei quando falei contigo. Lembras-te?
Olhei-te nos olhos e meio a gaguejar meio a correr nas palavras perguntei-te.
Lembras-te do que respondeste?
Oh, tinhas uma saia vermelha, uma blusa branca, quase que escondeste o rosto no lenço que trazias a prender o cabelo. O teu ‘sim’ foi tão tímido. Coraste. Mas disseste sim.
Lembras-te?
Aquela tarde foi um desastre! Estava tão atrapalhado que a chávena de café caiu da minha mão. Todo eu tremia. Gago, naquela tarde fiquei gago. Depois quis encher o teu copo com o sumo! Oh, parti o copo, deixei cair a garrafa!
Lembras-te?
Deste uma gargalhada. Seguraste na minha mão e suavemente disseste que não valia a pena eu estar atrapalhado porque iriamos passar o resto das nossas vidas juntos!
Lembras-te?
Tens que te lembrar! O meu coração já era teu naquele dia! Fiquei preso àquela promessa que fizeste. Que ficaríamos juntos para o resto das nossas vidas. Foi há quarenta anos.
Daí até ao casamento foram apenas três meses. Achei que esses meses passaram tão devagar como mil anos! Era uma tortura não te ter junto a mim! Naqueles três meses disse ‘amo-te’ todos os dias. E ainda digo! Ao fim de quarenta anos ainda digo ‘amo-te’.
Lembras-te?
Disse-te hoje de manhã quando te fui acordar. Olhaste para mim e perguntaste quem eu era! Fingi não ouvir! Fomos apresentados há quarenta anos! Pelo João. O meu amigo! O nosso padrinho de casamento. O padrinho da nossa filha, a Joaninha! Sabes quem é a Joaninha. Claro que sabes! Ela ontem esteve cá. Ouvia-a a chorar ao telefone. Dizia a alguém que não te lembravas dela…
Mas tu lembras-te não lembras?
Eu sei que sim…
Como também sei que te lembras do nosso neto. O Diogo! Fez três anos a semana passada. A festa foi linda. Havia balões. Perguntaste o que era aquilo. Eu peguei-te na mão e disse-te o que era. Balões! Até te expliquei como se enchem. Ficaste calada a olhar para eles em silêncio. Depois disso cantámos os parabéns.
Lembras-te?
O Diogo sentou-se no teu colo. Abraçou-te. Deu-te um beijo no rosto. Chamou-te avó. Perguntaste quem ele era. A sala ficou em silêncio e eu expliquei-te quem ele era. Quem era a Joaninha. Quem era o nosso genro. Quem eram todos.
Lembras-te?
Sorriste. Como é lindo o teu sorriso.
Linda. És tão linda!
E agora estás presa no teu corpo, na tua mente. Mas tu fizeste uma promessa. Disseste que ficaríamos juntos para o resto das nossas vidas.
E eu ainda te amo.
Lembras-te?
O mar estava calmo, as pequenas ondas iam e vinham fazendo um barulho suave, a brisa já não se fazia sentir com tanta intensidade, o calor apertava. Maria estava deitada na toalha. Já tinha lido uma boa parte do seu livro, já tinha ido até ao mar, já tinha feito uma caminhada. Olhou novamente para o relógio, tinham passado apenas cinco minutos desde a última vez que tinha visto as horas. Sentia-se cansada e sonolenta…
Sentiu uma sombra a seu lado. Sorriu ligeiramente, não devia de ser nenhuma das suas amigas. Estavam entretidas demais com os rapazes que estavam a jogar vólei de praia. Só podia ser ele. Roberto.
Sentiu as suas costas a serem acariciadas. Como conhecia tão bem aquelas mãos. Virou-se e viu o rosto dele. Estava sorridente, lindo. A sua pele estava bronzeada pelo sol e ficava-lhe tão bem!
Foi presenteada com um longo beijo na boca e um abraço apertado.
“-Desculpa. Não deu para vir mais cedo!” – Acariciou o rosto de Maria.
“-Interessa apenas que tenhas vindo. Já tinha perdido as esperanças…” – Beijou-o ligeiramente no rosto.
“-Tive que tirar o dia mas para estar contigo vale bem a pena.” – Olhou para toda a confusão de toalhas, roupa e mochilas que estavam perto de Maria. “-Vieste com a Isabel, a Inês e a Ana?”
“-Sim. Elas estão para aí meias perdidas com uns jogadores de vólei. A última vez que as vi babavam por eles!” – Deu um sorriso.
“-Ah e tu não foste para lá babar?”
“-Preferi esperar por ti…” – E puxou-o para si fazendo com que o seu corpo ficasse sobre si. “-Estava cheia de saudades. E com uma vontade enorme de te ter só para mim.” – Beijou-o. “-E de fazer amor contigo!” – Beijou-o novamente.
“-E ainda bem…” – Roberto falou a custo. “-É que tenho uma surpresa para ti.” – Sussurrou-lhe ao ouvido. “-Veste-te! E vamos. É aqui perto?”
“-E elas?” – Perguntou enquanto se levantava e lhe sorria.
“-Aposto que nem vão dar pela tua falta!” – Puxou-a pela mão e andaram apressados pelo areal.
Tinham andado cerca de dez minutos em passo apressado. Maria ria e Roberto remetia-se ao silêncio. Pararam em frente ao parque de campismo.
“-É aqui a minha surpresa?” – Perguntou olhando em redor.
Roberto beijou-a longamente. “-É, tenho aqui uns amigos acampados e hoje não estão. Disseram-me que podia usar o bungalow. Achei que seria giro. Um tempinho para nós e aqui tão perto do mar.”
Maria anuiu. A ideia também lhe agradava e muito.
Roberto abriu a porta do bungalow. O espaço não era muito grande mas era extremamente agradável. Estava fresco lá dentro, as janelas estavam abertas e ouvia-se o barulho do mar e o barulho da natureza.
Maria sorriu e pegou-lhe na mão. Olhou-o nos olhos e beijou-o. Há muito tempo que não estavam sozinhos. Havia sempre um familiar, um amigo ou um estranho para interromper a tensão que se acumulava entre eles. Amava-o, sabia que o amava e agora, neste instante, apenas queria aproveitar o facto de estarem sozinhos. O tempo escasseava. Tirou-lhe o pólo, o seu corpo estava bem delineado, notavam-se todos os músculos, o sol tinha deixado a sua marca e Roberto estava bem bronzeado. Colocou-lhe a mão por dentro dos calções e sorriu perante a reacção de Roberto.
Quando sentiu a mão quente de Maria no seu membro, Roberto sorriu. Gostava do toque suave dela. Beijou-a com mais vigor. A sua sorte é que Maria vestia um fino vestido de praia. Bastava desapertar umas tiras e… E Maria ficava com um reduzido biquíni.
As mãos de Roberto passearam nas curvas de Maria. Esta suspirava, chamava pelo seu nome baixinho. Sem darem por ela estavam no sofá, faziam amor como se não houvesse amanhã.
Roberto beijava-lhe o pescoço. “-E que tal um banho a dois?”
Maria sorriu. Claro que adoraria tomar banho com Roberto.
A água fria escorria pelo corpo de ambos. Maria ensaboava o corpo de Roberto e sorria-lhe. Estava claramente a desafia-lo.
“-Maria, oh Maria…” – Sentia umas mãos nas suas costas, umas mãos molhadas. A mão de Roberto?
Mas e aquela voz? Quem é que chamava por si?
Abriu os olhos a custo, sentia a brisa suave, ouvia as ondas do mar. A seu lado as amigas chamavam por si e deitavam-lhe em cima salpicos de água. Tinha adormecido mas e Roberto?
“-Estás a dormir há algum tempo…” – Davam risadinhas e continuavam a atirar-lhe água.
Maria estava confusa. Tinha estado com Roberto, não tinha? Ou será que tudo não tinha passado de um sonho? Mas tão real… Tinha feito amor com ele. Tinha tomado banho com ele.
Pegou no telemóvel, oito da noite e… Uma mensagem.
“-Meu amor, hoje não deu para escapar e ir ter contigo. Prometo que amanhã tiro o dia só para ti. E tenho uma surpresa. Adoro-te.”
Maria sorriu. O desejo de estar com Roberto era tanto que sonhava… Um sonho que tinha a certeza que no dia seguinte se tornaria realidade.
O tempo passou sem darmos por isso! Passou e ficou ali entre nós! Vagueou e cresceu deixando entre nós uma montanha. O mesmo tempo que às vezes é mau o suficiente para apagar as boas memórias, e pior ainda quando teima em recordar as más!
Dizem que o tempo cura tudo, mas o nosso tempo recusou-se a curar o que nos separou!
E foi passando, esse tempo que às vezes é lento e demora mil anos a passar! Outras vezes tão rápido que o dia parece um mero segundo.
E o tempo passou por nós, deixou o seu silêncio, os seus medos e fez-nos perder as forças, desvaneceu sorrisos e esfriou o calor dos abraços.
O tempo, esse que se recusa a voltar atrás! Mas, e se voltasse? Seria o tempo suficiente para fazer tudo de outra maneira?
Tempo, dá-nos mais tempo para pensar, para recordar tudo o que houve de bom. E tu tempo que nos separaste, que ainda pairas sobre nós, não apagues o que foi bom! Mesmo que passes lento, mesmo que as memórias façam doer, dá-nos tempo!
Mas se tu tempo teimas em ser mau, o destino é como um bom jogador de cartas. Vem devagar, baralha as nossas vidas assim de uma maneira tão ágil que nem tu, tempo, dás por isso!
E ficámos ali parados, olhos nos olhos, de sorriso tímido, e o tempo ali a navegar entre nós e a deixar-nos sem saber o que fazer! Vá destino, leva este tempo embora! Traz-nos os sorrisos de volta e os abraços! Agora que nos voltaste a juntar que nem o tempo nos separe! Porque tu destino és mais forte que todo o tempo do mundo!
Caminhámos devagar em direção um do outro, o sorriso tímido começou a encher-nos o rosto e o calor dos nossos braços envolveu-nos! E o destino levou o silêncio deixado pelo tempo e as longas conversas de outrora voltaram.
E matámos o tempo que pairou entre nós, esse tempo que afinal não matou o que sentíamos. Porque o tempo, às vezes tão grato, às vezes tão ingrato, às vezes tão suave, às vezes tão áspero, às vezes tão lento, às vezes tão rápido, só faz bem a quem depende dele para continuar a amar.
E o amor, esse recomeçou como se o tempo nada lhe tivesse feito. E afinal temos que agradecer ao tempo, porque só nos fez desejar matar as saudades de nós! E que haja sempre, entre nós, tempo um para o outro!