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Marta Velha - Writer

Marta Velha - Writer

Desafios! :) Ler às 19h para recordar

24.01.23, Marta Velha

     Alice olhava para a janela e sorria. Um sorriso distante mas que dizia tudo o que ia na sua alma. Tinha corrido quase a fugir, quase com medo de perder o comboio, quase com medo do que tinha acontecido e agora no seu interior revia as horas que tinha passado com David. Quem diria? Um simples engano num e-mail, uma troca de palavras durante dois meses e agora tinham finalmente estado juntos.

     Quando o viu parado junto à porta da estação de S. Bento reconheceu-o logo! Alto, charmoso, sorridente e com um olhar que aquecia até um iceberg. Suspirou. Sabia que parecia uma adolescente a suspirar por um homem que era pouco mais que um estranho. Mas aquelas horas que passaram juntos tinham sido magníficas. Tinham passeado pelo Centro Português de Fotografia e pela livraria Lello, a fotografia e a escrita era o que unira os dois. Um passeio onde tinham visto muita coisa e tinham conversado sobre tudo e de tudo. E depois, aquele beijo de despedida! Oh que beijo!

     Olhou novamente pela janela. Não via a paisagem via o rosto de David, o seu sorriso, sentia o seu cheiro! Nunca acreditara em amor à primeira vista, mas depois do seu dia achava que estava apaixonada! Completamente perdida de amores por aquele homem! Sentia que eram almas gémeas. Sentia que o conhecia desde sempre.

Não sabia o que iria fazer, mas queria repetir todo aquele seu dia.

      Sorriu e deixou-se embalar pela viagem que ainda seria longa, encostou o rosto à janela. E a paisagem era apenas e só os momentos do seu dia.

 

 

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Pensamento do dia! :)

24.01.23, Marta Velha

 

Porque nem sempre é fácil colocarmo-nos no papel do outro! 

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Desafios! :) Ler às 19h para recordar

23.01.23, Marta Velha

A tua partida foi inesperada! Como todas as manhãs, acordaste-me com um sorriso caloroso, avisaste-me que talvez chegasses mais tarde! O teu trabalho assim o ia obrigar… E como sempre partiste, acenaste-me à porta e foste de sorriso no rosto.

     Agora olho para trás e as lágrimas correm-me pelo rosto. Partiste de repente, deixaste-me só, vagueio pelos corredores e ainda sinto o teu cheiro… O cheiro que tinhas antes de partir. Ainda me abraço à camisa que te dei no último Natal, como adorava veer-te com ela. As recordações são imensas… Recordo só as boas! Porque a minha mente bloqueou todas as discussões, todos os despertares sem um sorriso, todas as vezes que discuti contigo por pequenos nadas! Agora sei que fui uma parva! Como queria que o tempo pudesse voltar atrás e trazer-te… Partiste… e agora aqui, sentada neste meu silêncio sei que ainda te amo, sei que parte de mim resolveu partir contigo. A despedida teve que ser à pressa. Não voltarás! E na angústia pedi que me levassem para junto de ti. Viverás para sempre a meu lado, recordarei para sempre o teu sorriso. Partiste, mas o meu amor por ti nunca me deixará só…

 

 

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E tudo o mar levou! :)

22.01.23, Marta Velha

24 de dezembro de 1891
Hoje o paizinho esteve toda a manhã a tentar aprender a remendar redes.
Diz que parece que está a fazer bordados como as mulheres, mas felizmente
está a gostar. O seu rosto já tem um brilho. E os seus olhos já têm vida! É uma
maravilha vê‑lo assim. Hoje um dos moços que anda nos barcos aproximou‑se
de mim. Deu‑me uns peixes e sorriu‑me! Fiquei atrapalhada sem saber o que
lhe dizer. Ele fala de uma maneira esquisita, nem sei se o entendo muito bem.
Tocou‑me na mão e sorriu. Ficámos de nos encontrar depois do Natal, sempre
depois da hora da safra. O paizinho é que não pode saber! Não lhe gosto
de esconder o que faço mas se ele sabe que vou estar sozinha com um homem é
capaz de não gostar.
Mafalda

 

do livro 'E tudo o mar levou' 

 

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Desafios! :) Ler às 19h para recordar

22.01.23, Marta Velha

Vinha altiva, aquele olhar de superioridade que me deixava vermelho de raiva… Tão vermelho como o vestido que se lhe colava ao corpo como uma segunda pele!

     Como é que ela podia humilhar tudo e todos? Como é que podia ser tão desumana? Como é que se atrevera a rejeitar todo o amor que eu tinha para lhe oferecer?

     Eu… Eu só queria uma oportunidade para ser feliz, para a amar! Mas riu-se! Riu-se na minha cara e teve coragem de dizer que mesmo que eu fosse o último homem à face da terra jamais me mataria o desejo!

     Matar… foi aquela palavra que percorreu o meu corpo como um fogo! Daqueles fogos devoradores! Vermelhos vivos! Como o vestido dela… Como a minha raiva…

     Limitei-me a segui-la. Ia altiva! Tão altiva como a minha raiva. Estava em frente ao espelho. Retocava o batom dos lábios. Vermelhos! Como o vestido, como a minha raiva.

     Ah, eu não tive culpa! Aquela palavra na minha mente! Aquela gargalhada sonora quando viu o meu reflexo atrás de si, pelo espelho!

     Todo aquele vermelho que não era fogo nem paixão nem raiva nem o seu vestido!

     Sangue!

     Todo aquele vermelho ali espalhado. O que é que eu fiz?

     A raiva… a palavra… o vermelho nas minha mãos… o seu corpo nada altivo a meus pés… o seu vestido manchado… a faca no seu peito… e eu ali que só a amava! Que só queria que todo aquele vermelho fosse o fogo da nossa paixão!

 

 

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E tudo o mar levou! :)

21.01.23, Marta Velha

23 de dezembro de 1891
Cheguei ontem. Quase morri com o susto! Tanta areia, tanta mas tanta
água. Ficámos numa casinha de madeira. Tão linda, tão aconchegante… o
paizinho ficou horas sentado na areia a olhar para a água. As ondas iam e
vinham, tive tanto medo! A água gritava. Rugia como gatos selvagens. Os
pequenos barquinhos eram açoitados por toda aquela fúria. Por instantes pensei
que nos quisesse engolir! Foi uma tolice de minha parte! A água não engole
ninguém! O medo faz‑nos pensar coisas estranhas. Havia ali homens a trabalhar,
o paizinho esteve a ajudá‑los. Estavam a fazer uma coisa engraçada com
fios. Dizem que se chama redes. Servem para trazer peixe para terra. Talvez o
paizinho consiga ganhar algum dinheiro. Eu talvez vá ensinar alguns filhos dos
pescadores, muitas crianças já têm mais de dez anos e não sabem nem escrever o
nome. Andam a brincar entre as barracas, sujas, às vezes ajudam com o peixe.
Talvez um dia me habitue a isto!
Estamos quase no Natal…
Mafalda

do livro 'E tudo o mar levou'

 

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Desafios! :) Ler às 19h para recordar

21.01.23, Marta Velha

Quando te vi achei que serias mais um amigo. Um daqueles amigos que vimos de longe a longe, rimos de alguma parvoeira dita por alguém, damos dois beijos no rosto e partimos. Não te liguei muito, nem sequer reparei no teu olhar, quente, meigo e cheio de ternura para dar. Achei que serias mais um amigo. Apenas isso. Assim simples, porque a porta do amor era uma porta enferrujada para mim. Não a abria há muito tempo. Tinha medo que por essa porta entrasse o sofrimento, a dor, as lágrimas e os apertos no peito que me fariam sufocar. Mas tu, com toda a calma que te é característica sorrias para mim e o teu olhar, tão meigo, tão doce e tão suave embalava-me. Fazia-me ir por caminhos que eu recusava.

Trocámos algumas palavras no meio daquela multidão. Algumas delas sem nexo! Seguraste na minha mão e lentamente levaste-nos a afastar da multidão.

-Onde vamos? – Perguntei entre risos.

-Abrir portas! – Respondeste-me meio sério meio a brincar.

Parámos em frente ao mar, este sussurrava. Nos teus olhos vi a chave que abriria a tal porta enferrujada que era o meu coração. Por momentos estremeci. Levaste as tuas mãos ao meu rosto e os teus lábios começaram a formar um sorriso.

-É preciso dizer mais?

Abanei a cabeça. –Não! Claro que não! – E beijei-te.

Os teus olhos tinham dito o suficiente para acalmar os meus medos e o teu beijo tinha aberto a porta. Não havia razões para ter medo do teu amor. Ele tinha chegado suave! E agora que a porta estava aberta eu queria viver todos os momentos contigo. Ia deixar-te entrar, a ti e à felicidade que te acompanhava! E com tudo aprendi que até mesmo as portas enferrujadas podem ser abertas!

 

 

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Bom sábado! :)

21.01.23, Marta Velha

 

Sábado!!! Aquele dia de não fazer nada ou de fazer tudo!! 

Um excelente sábado para todos!! 

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E tudo o mar levou! :)

20.01.23, Marta Velha

Dezembro de 1891
A mamã faleceu. Dizem que foi tifo. O paizinho está de rastos. Não come,
não fala nem reage a nada há mais de três dias. Vendeu a cabra que tínhamos.
Diz que amanhã partiremos de Moinhos do Lindo, quer sair daqui. Quer ir
para longe de tudo o que lhe lembra a mãezinha. Começou a falar do mar. Diz
que quer ver o mar antes de ser levado por Deus Nosso Senhor. O ti Jaquim da
taberna falou‑lhe de um lugar mágico. Diz que se chama Póvoa do Varzim,
Abonemar. Não sei que pensar. Não quero partir daqui. Tou em idade casadoira.
O filho da ti Alicinha anda a fazer‑me a corte. Parece ser bom rapaz,
trabalhador, tem uma terra que cultiva, tem uma vaca que o ajuda a arar…
Não quero ir! Tenho medo do mar! Já me disseram que tem mais água do que
aquela que consigo imaginar. Talvez fique aqui até ao Natal.
Mafalda

In 'E tudo o mar levou' 

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Desafios! :) Ler às 19h para recordar

20.01.23, Marta Velha

Sentir… Era assim que a minha cegueira te deixava ver! Sentindo-te. Via o teu rosto como o calor do sol, porque era como o sol que tu me fazias sentir! Aquecias tudo em teu redor com o amor que transmitias!

     Ouvia o teu sorriso mesmo que estivesse no meio de um barulho ensurdecedor! Sentia-te! Sempre tive medo de te dizer que tinha um pequeno problema de visão, um problema que não me deixava ver-te como os outros te viam! Deixava-me apenas ver o que de melhor havia em ti. A única maneira que tinha de te ver era sentindo-te. Sabias que o teu corpo vibra quando ris? Ou imaginas sequer que o teu olhar me penetra intensamente e é mesmo como se te visse? Vejo-te sentindo-te!

    Ou imaginas o que o teu olhar me fala quando estás zangada? Ou sabes apenas que aquele gesto ligeiro que fazes com a cabeça me diz o quanto me amas?

     Um dia revoltei-me por ter este meu pequeno problema de visão, mas agora dou graças a Deus por assim ser, porque vejo-te melhor que ninguém! Sentindo-te…

 

 

 

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