Pensamento do dia! :)
Pensamento do dia!!
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Pensamento do dia!!
26 de dezembro de 1946
O dia de Natal passado ontem em casa dos meus pais foi um dia que quero
recordar para todo o sempre.
Éramos de facto uma família. Unida. Feliz. A sorrir. Com amor. Os meus
pais tinham um brilho no rosto por estarmos ali todos, os seus filhos com as
mulheres e o Afonso com o Joãozinho. Que orgulho. Mais ainda quando eu e a
Joana anunciámos que no próximo Natal haveria mais um membro na família.
A minha senhora está de esperanças. Ficou combinado que no próximo Natal
todos irão ao Porto. Será em minha casa a comemoração do Natal.
Que Deus abençoe todas as famílias.
João Maravalhas
Bom dia!
Hoje o pensamento do dia é:
31 de dezembro de 1942
Casei! Meu Deus, a Joana estava linda naquele vestido que ela mesma fez.
Quase chorei quando a vi entrar na igreja. Foi melhor do que aquilo que consegui
imaginar um dia. Nunca pensei. Hoje posso dizer que tenho tudo o que
sempre quis. Um trabalho, uma casa, e uma mulher que amo! Que amo muito.
O meu pai lá aceitou o facto de eu não querer casar na Póvoa. Achei sempre
que ele não viesse. Mas quando ele entrou na minha casa, me abraçou e chorou
eu apercebi‑me que por trás daquele homem forte há um homem sensível, que
é meu pai e que me ama. Vinha de fato e gravata. O meu pai, um homem do
mar! De gravata! Amo a minha família. E um dia sei que vou ter filhos e que
todos seremos felizes.
João Maravalhas
12 de maio de 1940
Mudei‑me para o Porto. A vida é mais fácil na cidade. Ainda sou jovem,
fiquei a dar aulas numa escola daqui. Gosto do que faço, gosto das letras. Gosto
de ensinar. Quem me dera que todos tivessem as mesmas oportunidades, mas a
força dos braços para o trabalho ainda é mais importante que a força da mente,
que as letras, que o ensino. Tento mudar as mentes, mas se nem os meus me
entendem como é que me hão de entender os de fora?
Conheci uma rapariga, bonita! É daqui. Sabe ler, sabe escrever, trabalha em
casa de pessoas de bem. Cozinha, arruma, lê as cartas da senhora, às vezes lê
para a senhora. Aprendeu a costurar e a bordar. Faz coisas bonitas. Este domingo
vou levá‑la a casa dos meus pais. Quero a bênção deles para me casar com ela!
Espero que a aceitem. Não é poveira, mas é a mulher que amo.
João Maravalhas
E hoje o pensamento do dia é:
4 de abril de 1936
Hoje nasceu o meu sobrinho. O meu irmão fez questão de o chamar de João,
tal como eu! João Afonso Maravalhas. Um menino saudável, cheio de vida e cá
com uns pulmões que assustam! Foi festa rija entre todos. Vinho, pão, chouriço,
peixe, tudo até tarde!
Um dia pode ser que eu mesmo case e que Deus abençoe o meu lar com uma
boa esposa e filhas! Peço a Deus filhas! Porque parece que os homens desta família
estão destinados ao mar! Triste sina a nossa! Eu consegui escapar, mas mais
quantos conseguirão? Às vezes ainda me incomoda o olhar do meu pai. Apenas
a santa da minha mãezinha parece compreender!
João Maravalhas
15 de agosto de 1934
As festas em honra da nossa Senhora da Assunção decorrem hoje. Os pescadores
enfeitam os seus barcos, há flores por todo o lado. Lembram‑se os que já partiram.
O meu irmão casou hoje. Na igreja da Lapa. Correu tudo muito bem, a minha
mãe estava bastante emocionada. E eu, apesar de passarmos a vida a criticar
um ao outro, amo o meu irmão e quero muito que ele seja feliz. Espero que agora
que tem mulher que tenha mais juízo e que se aventure menos pelas ondas do
mar. Podia ir para o Porto, trabalhar noutra coisa qualquer. Só pensa no mar.
Se o tempo está mau e os barcos ficam no porto ninguém o atura. Não consigo
compreender esta obsessão com o mar. Definitivamente não me está no sangue!
João Maravalhas
30 de julho de 1933
O meu pai teve um acidente de barco na última madrugada. No barco ia
ele, o meu irmão e mais alguns camaradas! Foi uma noite de tormento para
todos nós. A sorte de todos eles é que mesmo ali ao lado passava outra embarcação
e ajudou‑os. A minha mãe chorou no areal quando soube desta notícia. Foi
arrepiante ver todas aquelas mulheres ali a chorar e nós impotentes sem nada
poder fazer! A ajuda marítima veio logo de seguida, as ondas levantavam,
pareciam paredes levantadas por um Deus superior qualquer. Medo! Terror!
Como é que é possível estes homens irem ao mar, lutar pela vida, lutar por comida
na mesa e não terem medo? Por Deus, nunca estarei no cimo daquelas ondas!
O pai passou‑me o diário, quer que eu continue com a sua escrita, diz que
viu a morte a passear nas ondas do mar! A morte ria‑se de todos eles e reclamava
as suas almas! O meu pai ficou com medo. Agora eu tenho a responsabilidade
de continuar a escrever sobre o mar. Sobre o que os homens passam.
Começou a ser escrito pela minha avó. Noto que faltam aqui algumas folhas, não sei a razão e nunca irei perguntar. Talvez fossem coisas íntimas demais,
afinal é um diário.
João Maravalhas
Pensamento do dia!