Livro 'Paixão Alucinante'

Sentou-se na cama, olhava fixamente para Guilherme que começou a tirar algumas das suas coisas da mala.

-Tás cá com uma cara! – Fingiu-se assustado.

-Estava aqui a imaginar qual a melhor maneira de te apertar esse pescoço, deixar-te com a língua de fora e mais roxo que uma beringela!! – Lara mexeu as mãos como se estivesse a apertar alguma coisa.

-Uau! Acabei de ver a morte à minha frente! Nem sei se é seguro dormir aqui contigo!

-É melhor que nem durmas! Tens a noção que aquele tarado vai estar a imaginar-nos a fazer todas as posições do kama-sutra?? As existentes e as que ele imagina!

Guilherme deu uma gargalhada. -Deixa-o imaginar o que quiser! Que o meta em prática com a Carmen! – E continuou a sorrir.

-Odeio-te! Odeio-te e odeio-te!! Apetece-me contar tudo!

Guilherme fingia que não a ouvia, o que ainda a deixava mais irritada.

 

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Tinham começado a viagem há cerca de quinze minutos. Guilherme olhava-a pelo canto do olho. Lara mal entrou no carro ligou o rádio. Tinha a cabeça apoiada na mão e parecia uma criança amuada.

-Parecemos um casal de namorados que estão chateados e tu fazes um esforço enorme para me evitar. – Falava sarcasticamente numa tentativa de animar Lara.

-A Carmen obriga-nos a cada coisa…odeio isto!! Odeio!!

Guilherme esbugalhou os olhos, franziu a testa. E soltou quase sem pensar:

-Aah e pensas que eu adorei a ideia? – Fez uma pausa. -Se te faz feliz também não gostei nada da ideia mas vou fazer um esforço para que a viagem seja agradável para os dois. Não tens culpa, logo…

Lara percebeu a indirecta que Guilherme acabara de enviar em sua direcção. Sentiu-se mal por estar a descarregar a sua fúria nele.

-Desculpa Guilherme. Realmente estou a descarregar em ti e estás no mesmo barco, o barco do ou vão ou estão despedidos. É trabalho!!! – Fazia caretas enquanto falava e tentava imitar a voz de Carmen.

Guilherme achou piada às suas expressões e ria-se.

A viagem demoraria cerca de três horas. Aproveitaram para conversar um pouco sobre cada um. Afinal eram ‘namorados’ precisavam de conhecer um pouco os gostos de cada um.

Guilherme olhava-a. Era bonita, era sem dúvida muito bonita. Simples, simpática. Transmitia calor, paz e amor.

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Lara odiava quando Carmen a tratava por querida. Sabia que lhe ia pedir alguma coisa difícil e que ela iria ver-se entre a espada e a parede se recusasse. O mais certo era o ‘não’ nem poder ser colocado como hipótese. Ainda por mais também queria falar com Guilherme. Seria outro jantar?

-Entrem!! Preciso imenso da vossa ajuda! – Sorriu de orelha a orelha como se o sorriso fosse uma característica muito sua.

Guilherme puxou de uma cadeira e fez um gesto para que Lara se sentasse. Esta agradeceu com um aceno da cabeça.

-O Mário outra vez! Adorou-vos!

-Oh Carmen pelo amor de Deus!! Ele é um atiradiço de primeira, o sobrinho é um tonhó e eu passei por namorada dele!! – Apontou o dedo indicador para Guilherme.

-Vou tomar esse dele como elogio! – Guilherme olhou-a fixamente acabando por sorrir. Gostava da colega, sabia que gostava.

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Sónia andava atarefada nos preparativos da festa de anos das amigas. Tinha que fazer algo diferente mas ao mesmo tempo que todos gostassem. No seu computador havia ‘post-it’ coloridos com as várias ideias que ia tendo. Sabia que teria que convidar grande parte do pessoal da redacção ou Carmen nunca a perdoaria. Na pior das hipóteses arrancava-lhe o couro cabeludo. Resolveu que convidaria os mais chegados às gémeas – os colaboradores do piso 1.

-Posso? – Sónia espreitou por entre a porta aberta do gabinete da sua directora.

-Sim, Sónia! Entra, precisas de alguma coisa?”

-Preciso! De ajuda! Muita! – Fez uma careta. -Para os anos das gémeas. Já tenho o local escolhido mas sinto que preciso de algo para animar…

Foi interrompida por Carmen, que nem a olhava: -Karaoke…

-Desculpe…?? – Sónia parecia baralhada.

-Karaoke rapariga! Há lá algo mais animado do que rir à custa de quem desafina? Não há…por isso mete o pessoal a cantar!

-Mas elas não são lá muito dadas a cantorias. Nem uma nem outra! Até consigo imaginar a Lara a cantar mas a Raquel…

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-Estou tão nervosa! A Carmen não devia ter-nos colocado nesta situação! – Deu o braço a Guilherme.

-Pois, eu também não gosto muito da ideia, mas arrastou-me para isto e quando dei por mim já tinha dito sim!

-Se as coisas correm mal ela arranca-nos o escalpe e faz um casaco com ele! – Fez um barulho estranho com a boca como se estivesse a sofrer dores agonizantes.

Guilherme achou piada às caretas que ela ia fazendo e sorriu.

-Vá, o jantar vai correr bem. O senhor Mário vai assinar o contrato e vai ser um sucesso!! – Guilherme queria mesmo acreditar no que acabara de dizer.

...

-Deve ser a Lara. Muito prazer! – E estendeu a mão, beijando-a, dando um sorriso. -E o senhor deve ser o Guilherme. O namorado sortudo aqui da Lara! – Piscou o olho.

Guilherme sorriu, estendeu a mão para o cumprimentar.

-Muito sortudo mesmo! Acredite!! – E olhou para a rapariga que parecia estar quase, quase a dizer a verdade.