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Olhou-a fixamente enquanto ela se dirigia para a sala das fotocópias. Aquele vestido em tons de rosa assentava-lhe muito bem. Todas as suas curvas ficavam bem delineadas. Sabia exactamente quando ela o comprara, em que loja e em que outras ocasiões o usara. Pegou no telemóvel e viu as fotos. Sabia muito bem que tinha fotos dela com aquele vestido! Precisava de as rever. Sorriu. Estava divinal, como sempre! Ela era tudo com que sempre sonhara e ia ser sua! Tinha que ser! Pegou na flor branca que trouxera escondida e sem que ninguém se apercebesse colocou-a na sua secretária. Ela adorava flores, sabia bem que sim! Sabia que ela ia cheirá-la, olharia em redor querendo descobrir quem a deixara, depois iria colocá-la no teclado e ficaria ali até murchar, ser deitada ao lixo e receber outra!
Vanda trazia nos braços o que lhe parecia uma tonelada de fotocópias. Viu a flor em cima da secretária e olhou em redor. Ao início achou piada à brincadeira e perguntou pelo escritório quem tinha sido, ninguém se acusou. Mas agora que recebia telefonemas a meio da noite onde nada era dito e também recebia mensagens anónimas a elogiar o que tinha feito durante o dia e a perguntar se gostara da flor, toda a piada tinha sido perdida!
“-Ana, por acaso viste quem deixou aqui a flor?”
A colega olhou-a admirada. Estaria a falar de quê? “-Não! Não vi ninguém a deixar aí nada. Mas não é a primeira vez que recebes uma, pois não? De certeza que é algum admirador secreto!” – Sorriu.
Vanda olhou em redor. Trabalhavam ali cerca de 80 pessoas. Podia ser qualquer um! Havia também pessoal externo que entrava e saía constantemente. Ficara assustada quando Ana alegara ‘admirador secreto’. Mas para quê alarmar-se, era só uma flor. Desta vez não a cheirou. Pousou-a no teclado. Respirou fundo. Precisava de mudar de assunto.
“-Já sabes onde vai ser a festa de Natal deste ano?”
Ana sorriu. Se havia novidade a circular pelo escritório ela sabia. “-Claro que sei! Parece que este ano abriram os cordões à bolsa! Será num hotel no centro da cidade. Comida e bebida à descrição e…” – Esbugalhou os olhos. “-Para loucura total haverá uma banda de música portuguesa ao vivo!!” – Esboçou um sorriso de orelha a orelha.
Vanda sorriu. Era sem dúvida alguma uma excelente notícia. “-Isso é muito bom! Já sabes o dia?”
“-O que é que achas?” – Sorriu enquanto olhava a colega e brincava com uma caneta.
“-Vá lá, diz então! Acho que vou comprar um vestido novo para essa altura!”
“-É no dia 19, temos que estar lá por volta das oito da noite. Pelo que sei temos que vir trabalhar e depois partilhamos boleia até lá!”
“-O ideal seria partilhar boleia com quem não bebesse! Assim podíamos estar muito à vontade para beber até cair!” – Piscou o olho à colega e sorriu.“-Olha, não tinha pensado muito nisso. Mas é uma excelente ideia!”
Olhou para Vanda novamente. Ela era sempre tão simpática com todos. E aquele sorriso era divinal. Amava-a e Vanda tinha que ser sua. Sabia que devido à sua timidez talvez nunca se declarasse convenientemente mas Vanda era perspicaz, já tinham falado imensas vezes sobre relações. Tinha a certeza que ela também nutria algum tipo de sentimento por si. Quais tinham sido as palavras exactas dela? ‘O amor nasce de uma grande amizade!’ – Tinham uma amizade grande, não tinham? Logo, dali nasceria um grande amor!
Vanda sentia-se observada e a sensação era horrível! Sabia que estava sozinha no escritório, infelizmente tinha-se esquecido ali do seu telemóvel e tivera que voltar. Assustou-se com o que lhe pareceu passos.
Olhou em redor, o coração batia descontrolado. “-Quem está aí?”
Novamente aquele barulho! Olhou em redor. De um dos gabinetes uma luz ténue parecia chamar por si. Tentou ficar mais atenta para tentar perceber se não seria um ruído da noite. “-Quem está aí?” – Perguntou agora mais assustada. Levou a mão ao peito quando viu a sombra a aparecer do corredor. Sorriu. Que parva por pensar noutra coisa.
“-Assustaste-me!” – Pegou no telemóvel que estava na sua secretária. Viu ali outra flor. Tentou não se perturbar. Olhou para o telemóvel. Três mensagens do mesmo número.
“-Não era minha intenção fazê-lo! Desculpa.” – Olhou para Vanda. Como era bonita. E assim assustada, de bochechas rosadas e de peito a arfar ainda era mais bonita. “-Não vais cheirar a flor?”
Vanda olhou fixamente para quem estava na sua frente. “-Como é que sa…” – Esbugalhou os olhos quando Maria se aproximou de si com um lenço na mão esfregando-o no seu nariz.
Maria acariciou-lhe o rosto. Como a amava. E agora estavam ambas livres. “-Oh meu amor! Desculpa! Desculpa pelo que te faço. Mas amo-te há tanto tempo! Agora vamos ser felizes. Sei que também me amas! Sei que sim! Tu mesmo disseste que os homens são uma porcaria! E gostas tantos das flores que te envio! E somos amigas! Da amizade nasce o amor! O amor verdadeiro. Vais ser minha! Só minha!”
Vanda gemia baixinho. Não sabia o que continha o lenço, mas sentia-se sonolenta e sem forças. “-Maria…” – Gemeu num sussurro.
“-Chsst! Eu sei meu amor, eu sei! Queres tanto isto como eu. Vamos ser tão felizes! Aluguei uma casa só para nós! Ficarás na cave. Sei que ao início vais estranhar mas não posso arriscar que te roubem de mim! Nada disso! Terás flores todos os dias! Flores lindas! Não tão lindas como tu!”
“-Não podes…” – Mais um gemido.
“-Oh minha querida, anda vamos.” – E ajudou Vanda a levantar-se arrastando-a pelos corredores.
Vanda acordou assustada. Sentia que tinha tido um pesadelo horrível. Tinha uma dor de cabeça que a agoniava. Olhou em redor. Nem se lembrava muito bem de onde estava. Assustou-se quando se apercebeu que estava presa por um tornozelo. Ambientou-se à escuridão e olhou em redor. A divisão era ampla. Não tinha janelas, reconheceu no parco mobiliário algumas das suas coisas.
“-Não!!” – Gritou desesperada. Não tinha sido um pesadelo. Era real. Olhou para um pequena mesa no canto da divisão. Havia ali centenas de fotografias suas, muitas nem sabia onde tinham sido tiradas. Havia um pequeno cinzeiro com cabelos, nem precisava de adivinhar que eram seus. O que mais a chocou foi as fotos de ex namorados seus completamente riscadas e com o símbolo da morte por cima delas!
Maria entrou na divisão com um tabuleiro com uma sopa. “-Deves estar exausta! Dormiste três dias! Mas estás com bom aspecto! Vamos ser tão felizes, meu amor!” – E sorriu maliciosamente.
Hoje tive o privilégio de estar num café cuja parede está assim!!
Com livros! Com 'sonhos'! Com 'viagens'! Com 'outros mundos'!
Não é maravilhoso?
Por mais cafés assim, por favor!!
PS- Pastelaria Casa da Tia, na Figueira da Foz
Todos os dias à mesma hora me sentava no mesmo banco de jardim. Sentava-me, olhava em redor e depois abria o livro que me servia de companhia. Nunca antes tinha reparado em ti. Nunca! Até ao dia em que estavas sentado no lugar que eu tinha como meu! Só meu e do livro que me servia de companhia. Olhei-te com desprezo, queria que te fosses embora! Afinal estavas no meu lugar. Esboçaste um sorriso, esforçaste-te por me olhar com alegria. Na altura não o notei, mas à noite... No silêncio da noite, onde as palavras dançam em redor da nossa cabeça, onde os mais estranhos sons parecem uma música suave, onde a nossa mente passeia em torno do que se passou durante o dia... Notei... Notei que me olhavas com alegria, notei que tinhas esboçado um sorriso. Reparei no que o teu silêncio gritava! Querias-me ali, querias-me a teu lado! Mas eu fui embora! Regressei no dia seguinte... À mesma hora. Desta vez não te olhei com desprezo. Estudei-te os gestos. Ouvi novamente os gritos do teu silêncio.
"-Posso?" - Perguntei-te a olhar para o banco.
Inclinaste o rosto, talvez para me veres melhor. Sorriste. Oh, como amei o teu sorriso. Um sorriso rasgado, já não era um esboço. Era sincero!
"-Sim, claro que sim!" - Respondeste num entusiasmo que eu nunca conhecera em ninguém.
Foi assim durante uma semana. As parcas palavras trocadas entre nós resumiam-se a um 'posso' e a um 'sim, claro que sim'.
Mas ganhaste coragem, ganhaste coragem e falaste do tempo! Olhei-te de lado! O tema era tal banal!
"-Hoje está um dia quente! Finalmente o calor resolveu aparecer."
"-Humm, humm." - Foi tudo o que me atrevi a responder.
Mas foste persistente e no dia seguinte as mesmas frases... Não te olhei de lado, olhei-te nos olhos. Brilhavam, um brilho que me aqueceu a alma, que me fez sonhar. Agora ansiava por aquelas parcas palavras, estava sedenta delas. Queria mais... Muito mais!
Hoje, ao fim de sete anos, ainda nos sentamos no mesmo banco. Chegamos de mãos dadas. Sabia que te iria amar até à eternidade quando te olhei nos olhos. Não és de muitas palavras mas o teu silêncio fala comigo, diz-me tudo o que preciso! Ainda hoje o teu silêncio me diz que me ama! Ainda hoje falas do tempo. Ainda hoje me amas. Ainda hoje amamos aquele banco que nos uniu.
“-Adoro este autor!” – Pousou o livro e sorriu. “-As suas descrições são tão boas que nos obrigam a sentir tudo pelo que as suas personagens passam. E é maravilhoso sentir o amor, sentir a paixão, sentir o medo, sentir a raiva, sentir o desejo…” – Abraçou o livro.
Frederico olhou-a com amor. Há quanto tempo se sentia assim? Tempo demais para saber que estava perdido de amores por Anabela.
“-Parece que te estás a sentir muito bem com o que leste!”
“-Muito bem mesmo! É um romance onde os dois protagonistas se amam perdidamente mas recusam-se a aceitar o que sentem! Ou a admitir!”
“-Às vezes é difícil aceitar o que estamos a sentir! E confessar ao outro é ainda pior.” – Olhou-a com ternura e teve uma vontade enorme de sentir o calor da sua mão junto da sua.
“-Eu sei… mas isso acontece porque temos medo de uma recusa. E levar um não do outro é como mergulhar numa banheira cheia de cubos de gelo!”
“-E sentir o frio e sentir arrepios até na alma!” – Deu uma gargalhada. “-Acreditas no amor e em tudo o que ele nos faz sentir e nas loucuras que nos faz fazer e dizer…”
“-Oh, acredito! Claro que acredito!”
Frederico ganhou coragem e pegou -lhe na mão. Sentir o seu calor foi como chegar ao céu.
“-Consegues sentir?” – Sussurrou.
Anabela fechou os olhos. A brisa soprava suave, o cheiro da primavera chegava até ela fazendo-a sentir-se mais leve mais suave mais apaixonada. Abriu os olhos e fixou o seu olhar no dele.
“-É amor, não é?”
“-Se estás a sentir um formigueiro enorme no corpo e uma vontade enorme de me beijar… Sim é amor!” – Sorriu.
“-Que seja, então!” – E aproximando-se dele beijou-o apaixonadamente, sentindo o seu coração disparar!
Alice olhava para a janela e sorria. Um sorriso distante mas que dizia tudo o que ia na sua alma. Tinha corrido quase a fugir, quase com medo de perder o comboio, quase com medo do que tinha acontecido e agora no seu interior revia as horas que tinha passado com David. Quem diria? Um simples engano num e-mail, uma troca de palavras durante dois meses e agora tinham finalmente estado juntos.
Quando o viu parado junto à porta da estação de S. Bento reconheceu-o logo! Alto, charmoso, sorridente e com um olhar que aquecia até um iceberg. Suspirou. Sabia que parecia uma adolescente a suspirar por um homem que era pouco mais que um estranho. Mas aquelas horas que passaram juntos tinham sido magníficas. Tinham passeado pelo Centro Português de Fotografia e pela livraria Lello, a fotografia e a escrita era o que unira os dois. Um passeio onde tinham visto muita coisa e tinham conversado sobre tudo e de tudo. E depois, aquele beijo de despedida! Oh que beijo!
Olhou novamente pela janela. Não via a paisagem via o rosto de David, o seu sorriso, sentia o seu cheiro! Nunca acreditara em amor à primeira vista, mas depois do seu dia achava que estava apaixonada! Completamente perdida de amores por aquele homem! Sentia que eram almas gémeas. Sentia que o conhecia desde sempre.
Não sabia o que iria fazer, mas queria repetir todo aquele seu dia.
Sorriu e deixou-se embalar pela viagem que ainda seria longa, encostou o rosto à janela. E a paisagem era apenas e só os momentos do seu dia.
Um dia meu amor, um dia disseste-me que a vida era curta demais! Ri-me! Estávamos na flor da idade e eu achei que teríamos toda uma vida pela frente. E quando digo toda uma vida falo em mais cinquenta ou sessenta anos para viver! Rir! Dançar! Ser feliz!
Mas tu continuavas a dizer que a vida era curta demais!
Aninhavas-te a meu lado e dizias que me amavas! Eu sorria. Era tão bom sentir o calor do teu corpo. Repetias esta frase vezes e vezes sem conta ‘Amo-te’ e eu apenas te sorria.
A vida é curta demais! Quando querias fazer algo, fazias! Nem sequer pensavas duas vezes! Eu ria-me e chamava-te de louco. E tu dizias:
-Amor, a vida é curta demais! E o amanhã é tão incerto! Se me apetece correr hoje, corro! Se me apetece dançar hoje, danço! Se me apetece andar cem quilómetros para ver o mar, ando! Acompanha-me apenas! Por favor.
E lá ia eu, de mão dada contigo a achar-te um louco apenas porque querias viver tão intensamente. Nunca te perguntei porquê, achei apenas que tinhas energia a mais e que precisavas de te desfazer de toda ela antes de repousares à noite.
E todas as noites me dizias o mesmo, como se fosse um mantra. Repetias tudo e, às vezes, fazias-me repetir tudo contigo! Ria-me! E lá repetia como se fosse uma menina ainda na escola primária.
-A vida é curta demais! Rir, dançar, amar, beijar, ser feliz todos os dias. Porque o amanhã é incerto!
Ouvias-me atentamente. Depois sorrias, um sorriso que iluminava o meu mundo!
-É isso, meu amor, lembra-te apenas que a vida é curta demais!
Hoje fico feliz porque te fiz feliz nos últimos dias da tua vida. Porque o teu amanhã não era incerto… Ias partir e sabias! Querias viver intensamente porque a tua vida ia ser curta demais! Não terias nem cinquenta nem sessenta anos pela frente. Tiveste apenas uns meses, uns meses onde me obrigaste a viver intensamente e me fizeste ver que devemos dar tudo de nós todos os dias. Sorrir, amar, beijar, abraçar, ser feliz, porque afinal o amanhã é tão incerto!