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Marta Velha - Writer

Marta Velha - Writer

E tudo o mar levou! - Diário de João Maravalhas 30 julho de 1933

29.03.24, Marta Velha

Livro 'E tudo o amr levou'

30 de julho de 1933
O meu pai teve um acidente de barco na última madrugada. No barco ia
ele, o meu irmão e mais alguns camaradas! Foi uma noite de tormento para
todos nós. A sorte de todos eles é que mesmo ali ao lado passava outra embarca‑
ção e ajudou‑os. A minha mãe chorou no areal quando soube desta notícia. Foi
arrepiante ver todas aquelas mulheres ali a chorar e nós impotentes sem nada
poder fazer! A ajuda marítima veio logo de seguida, as ondas levantavam,
pareciam paredes levantadas por um Deus superior qualquer. Medo! Terror!
Como é que é possível estes homens irem ao mar, lutar pela vida, lutar por comida
na mesa e não terem medo? Por Deus, nunca estarei no cimo daquelas ondas!
O pai passou‑me o diário, quer que eu continue com a sua escrita, diz que
viu a morte a passear nas ondas do mar! A morte ria‑se de todos eles e reclamava
as suas almas! O meu pai ficou com medo. Agora eu tenho a responsabilidade
de continuar a escrever sobre o mar. Sobre o que os homens passam.
Começou a ser escrito pela minha avó. Noto que faltam aqui algumas folhas,
não sei a razão e nunca irei perguntar. Talvez fossem coisas íntimas demais,
afinal é um diário.
João Maravalhas

 

E tudo o mar levou! - Diário de Artur Maravalhas 24 junho de 1926

28.03.24, Marta Velha

Livro 'E tudo o mar levou'

24 de junho de 1926
Quando a minha mãe me ensinou a escrever achei que nunca ia precisar.
Um homem que vai ao mar não precisa de saber letras! Mas, hoje que faz um
ano que ela partiu, e um ano desde que comecei a ler este seu diário, sei que me
era preciso. Hoje sei que o meu pai morreu. Não o pai que me criou e que sempre
amei como sendo o meu pai verdadeiro. Nunca desconfiei que o Maravalhas
não fosse mesmo o meu pai! Nunca me contaram… Não me sinto triste por isso.
Segundo a minha mãe o mar levou o meu verdadeiro pai! Este monstro, como
ela lhe chamava. E agora compreendo muita coisa. Compreendo o seu medo
quando aprendi a nadar, compreendo o seu medo quando fui ao mar pela pri‑
meira vez. Mãezinha, foste uma mulher de armas e eu amo‑te muito. Onde
quer que estejas protege‑nos, pede a Deus por nós.
Os meus filhos e a minha mulher vão saber onde está este diário. Passará
o tempo mas este livro viajará pelos nossos familiares. Histórias heroicas serão
contadas. Homens do mar serão honrados.
Artur Maravalhas

 

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E tudo o mar levou! - Diário de Mafalda 26 de Novembro de 1892

27.03.24, Marta Velha

Livro 'E tudo o mar levou'

26 de novembro de 1892
Já sinto as dores de parto, está próximo, não sei se aguentarei o dia todo de
hoje. Tenho andado a pé, devagar, dizem que ajuda. E é mais fácil para eu
respirar. A ti Zirinha não sai de perto de mim. Tem‑me dado um chá de ervas,
diz que ajuda nas dores. O Zé Maravalhas tem sido um amigo como nunca tive.
É de poucas palavras, mas quando fala diz‑me tanto. Sinto por ele um carinho
especial. Um amor de amigo que nunca se irá apagar. Preocupa‑se comigo. Tem
trazido panos lavados para o parto. Esteve na cidade grande e trouxe tecido
para a roupa do bebé. Ele queria que fosse uma menina, assim não teria como
destino o mar! Eu disse‑lhe que mesmo sendo mulher, se fosse como eu, iria ao
mar sem temer as ondas maléficas. Riu‑se. Sei que gosta de mim, sei que ama
este bebé, sei que sabe que à noite ainda choro. Amanhã faz 9 meses! De dor,
de lágrimas, sem o grande amor da minha vida. Maldito mar que me levou
quem eu amava. Gosto de acariciar a minha barriga e imaginar como será este
menino! É um menino, sinto‑o! Mais dores. Começam a ser bastantes. Tenho
que chamar alguém para me ajudar.
Mafalda.

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Dia do Dador de Sangue! :)

27.03.24, Marta Velha

     E hoje é dia do Dador de Sangue! E este dia fez-me lembrar um texto que escrevi há uns bons 10 anos!  Porque afinal pode acontecer a alguém que conhecemos!

    Doar sangue não custa nada! Doar medula óssea também não! 

 

https://martavelha-autora.blogs.sapo.pt/passo-olho-ignoro-um-texto-com-24879

 

 

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E tudo o mar levou! - Diário de Mafalda 15 agosto de 1892

26.03.24, Marta Velha

Livro 'E tudo o mar levou'

15 de agosto de 1892
Hoje nossa Senhora da Assunção é venerada. É a padroeira dos homens do
mar. Fui com a ti Zirinha e com a Ana, irmã do meu falecido. Estávamos todos
comovidos, a lembrança ainda está muito viva. Ainda se fala dos mortos. A ti
Zirinha contou‑me uma crença muito bonita e que me acalmou a alma. Santo
André é o barqueiro das almas, vai pescá‑las ao fundo do mar e resgata‑as para
si. Sei que o meu Bilhanos está no seu regaço e está feliz. O Zé Maravalhas hoje
junta‑se a nós. Segundo a ti Zirinha ele vai assumir o meu bebé. Nunca casou,
nunca teve filhos. Nunca o vou amar. Mas vou respeitá‑lo, sempre!
Vamos falar e se tudo correr bem casamos quando o meu bebé nascer.
As festas em honra de Nossa Senhora foram lindas de se ver. Levei flores ao
mar. Espero que todos aqueles que faleceram tenham sido encontrados por Santo
André, mereciam. Eram bons homens…
Quando casar vou tornar‑me pescadora, está decidido. Vou domar o mar.
Levou‑me tudo o que eu tinha, roubar‑lhe‑ei tudo o que tem para me dar!
Vou ter uma família novamente, nunca mais irei sorrir, mas sei que ainda
terei muitas alegrias. Um dia pensei em matar‑me, deixar‑me levar pelas ondas,
ainda bem que alguém me deu a mão. Vou ser forte por este bebé. Muito forte.
Mafalda

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Grafitti do dia! :)

26.03.24, Marta Velha

Boooooom diaaaa!! Excelente terça feira para todos!! E com muitos motivos para sorrir! 

 

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E tudo o mar levou! - Diário de Mafalda 20 Junho de 1892

25.03.24, Marta Velha

Do livro 'E tudo o mar levou'

 

20 de junho de 1892
Algumas mulheres de pescadores olham‑me com pena. A minha barriga já
se nota. Algumas sabem o que estou a passar, conhecem a minha dor. Sabem o
que é ter um filho no ventre e ele não ter pai. Quero o melhor para os dois. Pão
e peixe na mesa.
Quem me dera um barquinho para eu mesma sair ao sabor das ondas. Nunca
estive sobre as ondas deste maldito mar. Mas um dia irei, irei domá‑lo! Irei
para trazer peixe para a minha mesa e do meu filho.
A ti Zirinha falou‑me de um primo afastado que mora para os lados das
Caxinas, homem de luta, homem velho, homem do mar. Tem mais de quaren‑
ta anos, e ela diz que era homem para assumir esta criança, homem para me
ajudar. Vamos falar na missa de domingo. O meu filho tem pai mas precisa de
um homem que lhe ensine tudo sobre o mar, um homem que o ajude a domar
este monstro. Se ele não se importar, um dia casaremos. Tenho que ter a certeza
que este bebé nasce robusto! Para isso tenho que trabalhar.
O homem chama‑se Zé Maravalhas.
Mafalda

 

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E tudo o mar levou! - Diário de Mafalda 25 de maio de 1892

20.03.24, Marta Velha

Livro 'E tudo o mar levou'

25 de maio de 1892
Os dias têm passado devagar, olho para o mar todos os dias, as ondas conti‑
nuam furiosas, querem mais homens, querem mais dor. Tenho sempre esperança
de ver o meu homem a sorrir de longe e a acenar‑me. Ainda me lembro dos seus
abraços, dos seus beijos, das suas palavras a dizer que vai ficar tudo bem. Sim,
tem que ficar tudo bem. O meu ventre cresce a olhos vistos. Já sinto esta criança
a mexer. É um menino. Tenho a certeza disso.
A vida por aqui continuou. Ninguém esquece o que se passou, ninguém
esquece os que perderam a vida, mas a luta pela sobrevivência tem que conti‑
nuar. Há famílias a passar fome, crianças choram agarradas às mães, não há
pão nem peixe. Por isso os homens vão ao mar todos os dias, mesmo quando o
mar está assim furioso. Os pobres barcos quase não aguentam tantos açoites que
levam das ondas.
Eu continuo a ajudar a encascar as redes. Às vezes também ajudo a esticá‑las
no areal e lá as vou remendando. Ajudei a irmã de Bilhanos a apanhar sargaço.
Faz‑se algum dinheiro com ele, sempre é uma ajuda.
Mafalda

 

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E tudo o mar levou! - Diário de Mafalda 22 de Março de 1892

19.03.24, Marta Velha

Livro 'E tudo o mar levou'

22 de março de 1892
Não sei que faça. A dor é imensa. Os corpos foram enterrados, pelo menos os
corpos de quem apareceu. Há os que se perderam para sempre no mar. Na igreja
da Lapa chorou‑se por quem partiu, por quem nunca irá aparecer. Eu estive lá,
no fundo da igreja. Havia gritos, lágrimas, cheiro a dor. A ti Zirinha segurou a
minha mão. Ela também já perdeu o marido, dois filhos e um neto para o mar.
Ela sabe o que eu estou a passar. Quero que o mar me leve!
Faltou‑me o costume das mulheres, não sei o que se passa, deve ser por causa
de tudo isto que estou a passar. A ti Zirinha diz que devo estar de esperanças.
Um filho de Bilhanos… Um filho nosso… Um filho que se nascer já irá conhecer
a dor de não ter pai. Acho que isto é mais uma razão para o mar me levar, não
sei cuidar de uma criança. Bilhanos já tinha falado nisso, mas e agora? Que
sentido tem? Nenhum…
Mafalda

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Feliz dia do pai! :)

19.03.24, Marta Velha

 

Porque hoje é um dia muito especial, um beijinho enorme a todos os pais! Em especial o meu!  que o vosso dia seja p'ra lá de maravilhoso! 

 

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