Todos os dias à mesma hora me sentava no mesmo banco de jardim. Sentava-me, olhava em redor e depois abria o livro que me servia de companhia. Nunca antes tinha reparado em ti. Nunca! Até ao dia em que estavas sentado no lugar que eu tinha como meu! Só meu e do livro que me servia de companhia. Olhei-te com desprezo, queria que te fosses embora! Afinal estavas no meu lugar. Esboçaste um sorriso, esforçaste-te por me olhar com alegria. Na altura não o notei, mas à noite... No silêncio da noite, onde as palavras dançam em redor da nossa cabeça, onde os mais estranhos sons parecem uma música suave, onde a nossa mente passeia em torno do que se passou durante o dia... Notei... Notei que me olhavas com alegria, notei que tinhas esboçado um sorriso. Reparei no que o teu silêncio gritava! Querias-me ali, querias-me a teu lado! Mas eu fui embora! Regressei no dia seguinte... À mesma hora. Desta vez não te olhei com desprezo. Estudei-te os gestos. Ouvi novamente os gritos do teu silêncio.
"-Posso?" - Perguntei-te a olhar para o banco.
Inclinaste o rosto, talvez para me veres melhor. Sorriste. Oh, como amei o teu sorriso. Um sorriso rasgado, já não era um esboço. Era sincero!
"-Sim, claro que sim!" - Respondeste num entusiasmo que eu nunca conhecera em ninguém.
Foi assim durante uma semana. As parcas palavras trocadas entre nós resumiam-se a um 'posso' e a um 'sim, claro que sim'.
Mas ganhaste coragem, ganhaste coragem e falaste do tempo! Olhei-te de lado! O tema era tal banal!
"-Hoje está um dia quente! Finalmente o calor resolveu aparecer."
"-Humm, humm." - Foi tudo o que me atrevi a responder.
Mas foste persistente e no dia seguinte as mesmas frases... Não te olhei de lado, olhei-te nos olhos. Brilhavam, um brilho que me aqueceu a alma, que me fez sonhar. Agora ansiava por aquelas parcas palavras, estava sedenta delas. Queria mais... Muito mais!
Hoje, ao fim de sete anos, ainda nos sentamos no mesmo banco. Chegamos de mãos dadas. Sabia que te iria amar até à eternidade quando te olhei nos olhos. Não és de muitas palavras mas o teu silêncio fala comigo, diz-me tudo o que preciso! Ainda hoje o teu silêncio me diz que me ama! Ainda hoje falas do tempo. Ainda hoje me amas. Ainda hoje amamos aquele banco que nos uniu.