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Marta Velha - Writer

Marta Velha - Writer

E tudo o mar levou! - Diário de João Afonso Maravalhas 27 dezembro 1954

11.04.24, Marta Velha
Do livro 'E tudo o mar levou' 27 de dezembro de 1954 Nasceu! Graças a Deus que nasceu. A Francelina está muito cansada. O trabalho de parto durou muitas horas. Está linda! A minha mulher está linda. E o meu menino é um rapagão. Quase 4 quilinhos. Que Deus me ajude agora a ganhar dinheiro sobre as ondas do mar para os sustentar. Este diário um dia será dele. Ele continuará a escrever aqui as suas me‑ mórias. Um dia sei que escreverá aqui que foi ao mar. Que casou, que teve um fi (...)

E tudo o mar levou! - Diário de João Afonso Maravalhas 23 março 1954

10.04.24, Marta Velha
Do livro 'E tudo o mar levou' 23 de março de 1954 Está mais bela. Mais bela e… grávida! A minha mulher está grávida. Graças a Deus. Vamos ser pais. Agora todo o cuidado é pouco. Vou cuidar dos dois. Ah meu Deus. Um filho. Eu e a Francelina vamos ser pais. Meu Deus do céu, guarda‑me sobre as ondas deste mar. Deixa‑me viver para que possa ver o crescimento desta criança. Que seja um menino. Um me‑ nino, que um dia será um homem. João Afonso Maravalhas

E tudo o mar levou! - Diário de João Afonso Maravalhas 22 fevereiro 1954

09.04.24, Marta Velha
Do livro 'E tudo o mar levou'22 de fevereiro de 1954A Francelina nunca se me confessou, mas sinto que sente um desgosto de morte por ainda não ter filhos. Não sei o que se passa, mas não há meio da mulher engravidar. Acho que a culpa é minha mas ela diz que não. Eu sinto‑me mal. Sou o único que ainda não tem descendência. Fosga‑se!! Um homem tem que ter filhos! Para ensinar a andar de bicicleta, a nadar neste mar revolto, saber o que é atirar‑se de cabeça nesta água bem (...)

E tudo o mar levou! - Diário de João Maravalhas 20 agosto 1947

05.04.24, Marta Velha
Do livro 'E tudo o mar levou'20 de agosto de 1947Ontem nasceu a minha filha. Meu deus! Quando a vi pela primeira vez as lágrimas vieram‑me aos olhos. Como é que é possível se ter tanto amor a um ser tão pequenino e tão dependente de nós? Peço a Deus que a proteja sempre.Ainda bem que não ando ao mar. Seria terrível ver o pavor nos olhos da minha mulher ou da minha filha. Tenho‑lhe um amor infinito. Um dia sei que ela terá orgulho em mim. Mas quero também que ela tenha orgul (...)

E tudo o mar levou! - Diário de João Maravalhas 31 dezembro 1940

04.04.24, Marta Velha
Do livro 'E tudo o mar levou'  31 de dezembro de 1942 Casei! Meu Deus, a Joana estava linda naquele vestido que ela mesma fez. Quase chorei quando a vi entrar na igreja. Foi melhor do que aquilo que con‑ segui imaginar um dia. Nunca pensei. Hoje posso dizer que tenho tudo o que sempre quis. Um trabalho, uma casa, e uma mulher que amo! Que amo muito. O meu pai lá aceitou o facto de eu não querer casar na Póvoa. Achei sempre que ele não viesse. Mas quando ele entrou na minha casa, (...)

E tudo o mar levou! - Diário de João Maravalhas 12 maio 1940

03.04.24, Marta Velha
Do livro 'E tudo o mar levou' 12 de maio de 1940 Mudei‑me para o Porto. A vida é mais fácil na cidade. Ainda sou jovem, fiquei a dar aulas numa escola daqui. Gosto do que faço, gosto das letras. Gosto de ensinar. Quem me dera que todos tivessem as mesmas oportunidades, mas a força dos braços para o trabalho ainda é mais importante que a força da mente, que as letras, que o ensino. Tento mudar as mentes, mas se nem os meus me entendem como é que me hão de entender os de fora? Conh (...)

E tudo o mar levou! - Diário de João Maravalhas 15 agosto 1934

01.04.24, Marta Velha
Do livro 'E tudo o mar levou' 15 de agosto de 1934 As festas em honra da nossa Senhora da Assunção decorrem hoje. Os pescadores enfeitam os seus barcos, há flores por todo o lado. Lembram‑se os que já partiram. O meu irmão casou hoje. Na igreja da Lapa. Correu tudo muito bem, a minha mãe estava bastante emocionada. E eu, apesar de passarmos a vida a criticar um ao outro, amo o meu irmão e quero muito que ele seja feliz. Espero que agora que tem mulher que tenha mais juízo e (...)