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Marta Velha - Writer

Marta Velha - Writer

Amor de Deus! :) Francisco sente-se num dilema

19.06.24, Marta Velha

Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; na verdade, o espírito está pronto mas a carne é fraca

Mateus 26 - 41

Livro 'Amor de Deus'

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Pegou no seu terço. O mesmo terço que tinha há anos. O terço que a mãe lhe oferecera. O terço que o acompanhava nos bons e nos maus momentos. O mesmo terço que agora participava na sua angústia. Ajoelhou-se e rezou. Pedia a Deus para o livrar da tentação, para não cair em pecado, fosse ele de pensamentos ou obras. Ficou assim a rezar o pai-nosso, uma e outra e outra vez. Quando se sentiu exausto levantou-se. Não se sentia melhor.

     Sentou-se no sofá e abriu a bíblia. No cabeçalho Cantares de Salomão capítulo um. Leu em voz baixa: “Cântico dos cânticos que é de Salomão. Beije-me ele com os beijos e sua boca; porque melhor é o teu amor que o vinho. Suave é o aroma dos teus unguentos; como o unguento derramado é o teu nome; por isso as virgens te amam.” – Abanou a cabeça, não era o melhor capítulo para ler naquela altura. Sabia que na bíblia tudo aquilo tinha um sentido figurado, transmitido para a igreja. Mas nesta altura os seus pensamentos eram carnais. Tudo o que lia transfigurava para a mulher que amava. Saltou alguns versos e continuou. “Dize-me tu, ó tu a quem ama a minha alma…”. Abanou mais uma vez a cabeça e fechou os olhos. Virou algumas folhas e voltou a ler. “De noite, em minha cama, busquei aquele a quem ama a minha alma; busquei-o e não o encontrei.

     “-Desistooo!! Neste momento até a bíblia está contra mim.” – Pousou a bíblia e ligou a televisão. Não prestava muita atenção ao que estava a dar acabando por tirar o som ao aparelho. Deitou-se e fechou os olhos. Viu Maria. Viu o seu sorriso. Viu a mão de ambos unidos. Sentiu o seu sabor a mel quando os seus lábios se tocaram. Respirou fundo.

     Com a mão apalpou algo que estava no sofá. Uma carta. A carta que a mãe lhe deixara antes de morrer. Devia ter caído da bíblia. Era lá que a guardava para não a perder. Eram as últimas palavras da sua mãe.

     Abriu-a lentamente, passou os dedos ao de leve pelas letras muito direitas, ainda sentia o cheiro do amor da sua mãe ao escrever aquelas palavras. Como a amava e como se sentia amado. Releu-a.

 

     “-Meu querido filho,

     Se estás a ler estas simples palavras é porque parti para junto de Deus e de teu irmão. Apesar de todas as angústias que passei nesta vida, tu deste-lhe alguma cor e felicidade. Nunca fui a favor da tua decisão mas és e sempre foste muito de ideias fixas. Mas meu filho, os filhos são o melhor do mundo. Ainda estás a tempo de pousar a batina e arranjares uma moça que te faça feliz e te dê muitos rebentos. Se não o fizeres por ti, fá-lo por mim. Pelo teu irmão. Deus ama a tua alma, e tenho a certeza que entenderá se abandonares o sacerdócio.

    Sempre me senti culpada por essa tua decisão. E nem agora que sinto que estou à beira de dar contas a Deus me consigo perdoar por tal…

      Há muita coisa que te queria dizer mas se não tive coragem em vida agora em morte não vou mexer no passado. Segue a tua felicidade. Ama. Abraça. Vive. Escolhe uma mulher com o coração puro e que seja capaz de amar.

     Desta tua mãe que sempre te terá no coração,

     Conceição.

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