A praia estava deserta. A água banhava-me os pés e gelava-me os pensamentos. À minha volta o burburinho das ondas falava ao meu coração, as gaivotas davam beijos suaves nas ondas, elas riam de satisfação.

     Pensava em ti. Pensava no dia em que te deixei partir. Sim, deixei-te partir porque te amava. Sim, deixei-te partir porque me pediste. Só assim não sofrerias mais. Li a carta que me deixaste, li-a vezes sem conta. Tenho medo que o tempo faça as letras desaparecerem, tenho medo que o teu cheiro se esfumasse... Ah como te amo! Ainda amo! Claro que amo! E sempre te amarei! Imagino-te a escrever aquelas palavras, a tua letra trémula... Choraste! Sei que choraste. O sal das tuas lágrimas manchou o papel...

     Tirei a carta do bolso, queria lê-la ali, junto ao mar, junto àquele lugar que nos uniu.

     "-Meu amor,

     não sei onde estou a arranjar forças para te escrever! Não sei! Quero fazê-lo, preciso de fazê-lo... Preciso que me deixes partir!

     Todos os dias estás à cabeceira da minha cama. Todos os dias me dás a mão. Sinto o teu amor. É ele que me dá forças para continuar, mas estou a sofrer! Meu amor estou a sofrer! As tuas lágrimas, que tentas esconder mas que eu sei que existem, as tuas lágrimas são lanças no meu coração. Deixa-me partir. Se me amas deixa-me partir! Continua a dar-me a mão mas dá-me a liberdade de partir. Dá-me liberdade de continuar dignamente. A vida para mim estagnou mas tu és linda, jovem, amas-me, mas tenho que partir... A doença está a levar a melhor! Mas o nosso amor é eterno, sei que nos encontraremos por aí, algures!

     Hoje quando me deres a mão, sorri e diz que me amas. Mas logo de seguida diz que me dás a liberdade de fugir deste corpo. Por favor, deixa-me partir porque me amas.

     E este amor será eterno,

     Amo-te :)"

     Eu dava-te a mão quando partiste. Sorriste para mim e partiste. Logo de seguida desatei num pranto de lágrimas, mas só assim sei que serias feliz...

     Deixei-te partir porque te amava...