E tudo o mar levou! :)
22 de fevereiro de 1954
A Francelina nunca se me confessou, mas sinto que sente um desgosto de morte
por ainda não ter filhos. Não sei o que se passa, mas não há meio da mulher
engravidar. Acho que a culpa é minha mas ela diz que não. Eu sinto‑me mal.
Sou o único que ainda não tem descendência. Fosga‑se!! Um homem tem que ter
filhos! Para ensinar a andar de bicicleta, a nadar neste mar revolto, saber o que
é atirar‑se de cabeça nesta água bem gelada. Levá‑lo na sua primeira viagem
de barco. Sentir as ondas debaixo dos pés. Sentir o vento a despentear‑nos o
cabelo. Lançar a rede ao mar e vê‑la vir cheia de peixe! Navegar de noite e ver
a lua a deixar um rasto de diamantes nas águas do mar. Adormecer no barco
ao sabor das ondas. Ouvir o borbulhar das águas. Santo Deus, a necessidade
que tenho de ensinar tudo isto a um filho meu. Meu!
A Francelina não me diz nada. Mas eu sei que ela também quer muito um
filho. Ela tem tanto jeito para as costuras, e para as rendas, tenho a certeza
que se tivéssemos um filho que ela o ia encher de coisas bonitas feitas por ela. A mulher faz magia com agulhas e linhas.
Um dia sei que vamos ter um filho! Um homem! Um homem que também
vá ao mar.
João Afonso Maravalhas