E tudo o mar levou! :)
5 de outubro de 1979
Temo‑nos visto todos os dias. Tento safar‑me da safra o mais cedo possível.
Quero tanto estar com ela. Sempre. Todos os minutos são poucos. Combinámos
estar juntos amanhã ao final da tarde. Amanhã declaro‑me. Tenho que o fazer.
As noites são passadas em claro, imagino‑me a perder‑me naqueles cabelos
longos, naquelas pernas, naquelas mãos, naquele corpo. Meu Deus. Isto é amor.
Muito amor!
Falei com o mestre Maravalhas, pedi‑lhe conselhos. Depois de ler a história
dele e da mãe só me deu vontade de rir! A mãe foi dura. Deu‑lhe com um
carapau na cara! Há no diário algumas folhas em falta. Talvez as partes mais
íntimas. De certeza que o pai as tirou. E fez bem. Não me atreveria a ler as
partes em que ele esteve com a mãe. Contei‑lhe que ela não era de cá. Ele percebeu.
Apenas perguntou se ela amava o mar. É que uma mulher para aceitar um homem do mar tem que gostar do mar! Apenas isso! Tem que aceitar o risco!
Tem que aceitar a perda. E tem que aceitar algo muito mais importante. Que
um homem do mar, muitas vezes ama mais a profissão que a própria família.
Por isso arrisca.
Adriano Maravalhas