E tudo o mar levou! :)
Março de 1982.
Se havia homem que eu amava nesta vida, era o mestre Maravalhas. Passamos
anos tão felizes. Foi tão bom! Amei‑o. Amei‑o muito! Sempre que ele
saía para o mar mesmo que fosse de madrugada, eu ia espreitar, ia espreitar as
ondas, ia ver o barco afastar‑se. Por vezes senti medo. Medo que ele me fosse
tirado. Medo de o perder. Eu sabia que se isso acontecesse parte de mim ia com
ele. Aconteceu! O mar levou o único homem que amei nesta vida. Já chorei
tudo o que havia para chorar todas as noites. Sempre que via o barco a partir
eu chorava. Mas agora que ele partiu não consegui chorar. Nem uma lágrima.
Que me perdoe quem para mim olhou e murmurou, já chorei tudo o que havia chorar. Sempre que o meu Maravalhas salvava um homem das ondas do mar
eu perguntava‑me quem o salvaria a ele. Resta‑me o meu filho e as alegrias
que me dá a minha neta. Benza‑a Deus. Uma menina tão saudável, tão rechonchuda,
tão sorridente, tão bonita, sangue do meu sangue.
Um dia talvez esta página vá parar ao diário que pertence aos homens desta
família. Talvez…
Francelina Maravalhas