E tudo o mar levou! :)
Maio de 1990
Sinto‑me velha, cansada, talvez seja a idade, talvez sejam os desgostos da
vida que me vão tornando mais velha, mais cansada, mais acabada. O mar
levou‑o, dizem que o mar devolve tudo o que não é seu. Mentira, o meu Adriano
pertencia ao mar. Sempre pertenceu. O mar nunca o vai devolver. Adriano é do
mar. Meu Deus…. A dor de perdeu um filho é tão grande! As facadas que sinto
no peito matam‑me! Foi realizada uma missa pequena na igreja. Um funeral
sem corpo. Rezei, rezei muito pela alma do meu menino. Mas não chorei…
Não consegui chorar. Nada disso. A minha nora gritou! Vi‑lhe tanta dor no
rosto. A minha menina nem sabe o que se passa. A minha menina perguntou
pelo pai. . . Doeu tanto não saber o que lhe responder! Uma dor maior que a
perda provocada pela morte! Se Deus me tivesse levado a mim… Eu já não
fazia falta a ninguém…
A minha nora fez as malas e foi embora. Diz que nunca mais regressará a
esta terra. Amaldiçoou o mar, o mesmo mar que dava trabalho ao marido e que
lhe punha o pão na mesa. Fugiu! Era noite cerrada quando ela foi embora. A
minha menina ia cheia de sono. Sei que nunca mais a vou ver. E isso dói. E
isso fez‑me chorar!
Talvez um dia ela regresse! Talvez um dia ela ame esta terra. Esta terra
maravilhosa.
Francelina Maravalhas