Do livro 'E tudo o mar levou'
Se havia homem que eu amava nesta vida, era o mestre Maravalhas. Passamos anos tão felizes. Foi tão bom! Amei‑o. Amei‑o muito! Sempre que ele saía para o mar mesmo que fosse de madrugada, eu ia espreitar, ia espreitar as ondas, ia ver o barco afastar‑se. Por vezes senti medo. Medo que ele me fosse tirado. Medo de o perder. Eu sabia que se isso acontecesse parte de mim ia com ele. Aconteceu! O mar levou o único homem que amei nesta vida. Já chorei tudo o que havia para chorar todas as noites. Sempre que via o barco a partir eu chorava. Mas agora que ele partiu não consegui chorar. Nem uma lágrima.
Que me perdoe quem para mim olhou e murmurou, já chorei tudo o que havia a chorar. Sempre que o meu Maravalhas salvava um homem das ondas do mar eu perguntava‑me quem o salvaria a ele. Resta‑me o meu filho e as alegrias que me dá a minha neta. Benza‑a Deus. Uma menina tão saudável, tão rechonchuda, tão sorridente, tão bonita, sangue do meu sangue.
Um dia talvez esta página vá parar ao diário que pertence aos homens desta