E tudo o mar levou! - Diário de Adriano Maravalhas 25 dezembro 1970
12.04.24, Marta Velha
Do livro 'E tudo o mar levou'
25 de dezembro de 1970
Hoje faço 16 anos. Uma data de muitas decisões. Hoje foi um Natal e um aniversário muito diferente. E eu que achava que a minha família era perfeitamente normal. Como prenda o meu pai deu‑me o que eu pensava ser um livro. E logo ele que nunca pegou num livro na vida, isto pensava eu! Afinal eu achava que era um livro, mas não! Era um diário, um diário! Vejam bem! Um diário que agora é meu! Tipo herança! E mais! Um caderno de capas pretas com mais de 80 anos. Um caderno que fala tanto sobre estas gentes, sobre o que os meus antepassados passaram. Todos eles ligados ao mar. Infelizmente muitos deles morreram nestas águas. Quero quebrar esta triste sina. Vou entrar para o Forpescas, se vou andar ao mar que tenha qualificações para tal! Não sei muito bem o que quero. Claro que o mar me fascina! Adoro o mar! Adoro ouvir o som das águas a rugir. A sua fúria. Às vezes fico na praia a ver os barcos a sair para o alto mar. Parecem tão pequeninos, ali a baloiçar. Depois as ondas vêm e vão.
E deixo de ver o barco encoberto pelas águas. Mas depois lá lhe vejo a proa e
fico mais descansado. Não sei se quero ser pescador, as máquinas também me
fascinam! E um barco não é só feito de pescadores! Nada disso! Talvez daqui
a um ano ou dois esteja aqui a relatar o que faço num barco. Vai ser divertido.
Por agora vou pensar no Forpescas.
Adriano Maravalhas