In 'Paixão alucinante'
Nunca tinha lidado com crianças. Muito menos tinha entrevistado uma. Não sabia tão pouco o que deveria dizer ou como agir. Teria sido mais fácil se Carmen tivesse delegado a missão a alguma colega com filhos. Respirou fundo e encolheu os ombros. Não deveria ser muito difícil. Pelas conversas que tinha com algumas colegas e pelo que ia lendo na imprensa sabia que algumas crianças eram tão introvertidas que ficavam mudas diante de estranhos. Outras eram tão extrovertidas que falavam pelos cotovelos. Ia ao desconhecido, não sabia se era melhor ou pior do que saber com que contar.
No plano dado por Carmen havia um conjunto de perguntas simples elaboradas pela professora. Não sabia se iria ter dificuldades, sabia que iria duas vezes ao mesmo sítio entrevistar as mesmas crianças numa tentativa de perceber como pensam as crianças ou como podem os seus sonhos mudar. “-Que sonhos tinha eu ou a minha irmã quando éramos desta idade?” – Tentou recordar-se mas apenas se lembrava de querer ser médica.
A porta estava aberta. As crianças estavam espalhadas pela sala, distribuídas por diferentes actividades. Algumas pintavam, outras recortavam revistas. Outras simplesmente faziam alguns jogos. Notou que reconhecia alguns dos brinquedos. Havia coisas que nunca mudavam.