Para recordar!
“-Foi um milagre! Ele acordou…”
“-Vais contar-lhe?”
Sofia olhou para Ângela. “-Não tenho coragem!"
“-Esteve em coma dois anos! Tem direito a saber o que fizeste por ele!”
“-Nem sei se ele se lembra de mim!”
“-Tens de contar-lhe tudo! Ele merece saber. Lembrando-se ou não de ti. Tu estiveste sempre lá. Dois anos seguidos.”
Sofia tentou acalmar-se entrou no quarto onde um paciente ainda muito debilitado descansava. Os exames revelaram que estava tudo bem com Guilherme. Respirou fundo.
Olhou para o rosto cansado dele e sorriu. A sua vontade era tocar-lhe como tantas vezes fizera. Conversar com ele sem obter resposta!
“-Como se sente?”
“-Confuso, dorido, cansado e com fome!”
“-Tudo isso é normal.”
“-Não me consigo lembrar de nada. O médico disse que fiquei em coma após um acidente de carro. Quando fecho os olhos lembro-me de fragmentos de conversas que tive com alguém…”
Sofia gelou. “-Pode ser só a sua imaginação!”
Guilherme fez um ar confuso. Tudo parecia nítido demais para ser só imaginação. “-Recebi visitas nestes dois anos?” – Perguntou a medo.
Sofia respirou fundo. “-Estiveram cá amigos seus, depois deixaram de aparecer. A sua família é que vem com mais regularidade.”
“-Eu tinha noiva…”
Sofia agitou o tubo do soro e olhou-o, amava-o em segredo. Será que lhe deveria falar da carta? Não podia…
“-A sua família explicar-lhe-á tudo…”
O irmão de Guilherme entrou no quarto e abraçou-o. Há muito que tinha perdido as esperanças na sua recuperação. Contou-lhe tudo o que se passara naqueles anos.
“-E ela simplesmente desapareceu…”
Guilherme estava confuso.
“-Havia alguém que falava comigo diariamente com amor… Que tratava de mim… Juro mesmo que me pegava na mão.”
Sofia entrou no quarto, sorriu.
José sussurrou ao ouvido de Sofia. “-Foi por amor que o fez?”
Sofia olhou para Guilherme com ternura. “-Foi…”