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Marta Velha - Writer

Marta Velha - Writer

E tudo o mar levou! :)

20.03.23, Marta Velha
Dezembro de 2015 Já é inverno. Frio. Chuva. Vento. É tudo o que me espera quando vou à rua. Estamos perto do Natal. E já sei qual é o presente que vou dar ao Frederico! Ele nem imagina. Sempre que o vejo ir ao mar o meu coração aperta‑se! Tenho tanto medo que ele não volte! Tanto medo que o mar o leve para longe de mim. Tenho medo de ser mais uma a perder o marido nas ondas do mar, mais uma a dar razão ao poeta quando diz: oh mar salgado quanto do teu sal são lágrimas de (...)

E tudo o mar levou! :)

19.03.23, Marta Velha
Agosto de 2015 Nem acredito que comecei a escrever no velho diário de família. Finalmente chegou a minha vez para tal. Estou a morar na casa da avó. Era esse o compromisso de Frederico, ver a casa para a comprar. Disse‑me que estava disposto a esperar. Esperar o tempo que fosse necessário até eu regressar de boa vontade. Não esperava é que fosse tão depressa. Amo‑o e vou ter que aprender a amar o mar! E aprender a vê‑lo partir de madrugada. Custa, mas sei que sou forte e (...)

E tudo o mar levou! :)

18.03.23, Marta Velha
Maio de 1990 Sinto‑me velha, cansada, talvez seja a idade, talvez sejam os desgostos da vida que me vão tornando mais velha, mais cansada, mais acabada. O mar levou‑o, dizem que o mar devolve tudo o que não é seu. Mentira, o meu Adriano pertencia ao mar. Sempre pertenceu. O mar nunca o vai devolver. Adriano é do mar. Meu Deus…. A dor de perdeu um filho é tão grande! As facadas que sinto no peito matam‑me! Foi realizada uma missa pequena na igreja. Um funeral sem corpo. Rezei, (...)

E tudo o mar levou! :)

17.03.23, Marta Velha
Março de 1982. Se havia homem que eu amava nesta vida, era o mestre Maravalhas. Passamos anos tão felizes. Foi tão bom! Amei‑o. Amei‑o muito! Sempre que ele saía para o mar mesmo que fosse de madrugada, eu ia espreitar, ia espreitar as ondas, ia ver o barco afastar‑se. Por vezes senti medo. Medo que ele me fosse tirado. Medo de o perder. Eu sabia que se isso acontecesse parte de mim ia com ele. Aconteceu! O mar levou o único homem que amei nesta vida. Já chorei tudo o que havia (...)

E tudo o mar levou! :)

16.03.23, Marta Velha
Setembro de 1986 Mais uma tragédia, mais companheiros de labuta levados pelo mar. Estivemos na igreja de Caxinas. Quatro homens mortos, felizmente o mar devolveu os corpos. A missa foi muito sentida. Não somente pelos homens que morreram mas por todos os outros que foram lembrados. Quando me lembro de um dos filhos do Aleluia a chorar agarrado à mãe só me lembro da minha menina. Ele é pouco mais novo que ela. Chorava amargamente. Os seus gritos ouviam‑se na praia. A minha Antonieta (...)

E tudo o mar levou! :)

15.03.23, Marta Velha
Abril de 1982 A minha menina já corre tudo. Fala que nem um papagaio. Tem um sorriso do tamanho do mundo. Quando estou nas ondas do mar debaixo de uma tempestade tremenda, só me lembro do sorriso dela! Daquela mãozinha maravilhosa a dizer‑me adeus e da sua voz de anjo a dizer que gosta de mim! Penso nela e na minha mulher tantas e tantas vezes. meu pai foi levado pelo mar. A minha Antonieta chorou tanto! O meu coração partiu‑se por muitas razões, pela perda do meu pai, pela (...)

E tudo o mar levou! :)

14.03.23, Marta Velha
1 de dezembro de 1979 Nem sei por onde começar. Estes dias têm sido maravilhosos! Antonieta e eu estivemos juntos por estes dias. Fizemos amor! Meu Deus ela é uma mulher maravilhosa. Estivemos juntos na praia numa noite de luar que melhor pode haver que ter uma mulher que nos ama, que amamos, debaixo de um maravilhoso céu estrelado e de uma lua que ilumina tudo? Nada é melhor que isso!! Amo‑a. Deus sabe que a amo! Este amor à primeira vista parece ter dado cabo de mim. Não consigo (...)

E tudo o mar levou! :)

13.03.23, Marta Velha
5 de outubro de 1979 Temo‑nos visto todos os dias. Tento safar‑me da safra o mais cedo possível. Quero tanto estar com ela. Sempre. Todos os minutos são poucos. Combinámos estar juntos amanhã ao final da tarde. Amanhã declaro‑me. Tenho que o fazer. As noites são passadas em claro, imagino‑me a perder‑me naqueles cabelos longos, naquelas pernas, naquelas mãos, naquele corpo. Meu Deus. Isto é amor. Muito amor! Falei com o mestre Maravalhas, pedi‑lhe conselhos. Depois de (...)

E tudo o mar levou! :)

12.03.23, Marta Velha
Setembro de 1979 Hoje o dia acordou cinzento, mas se eu adivinhasse como ia ficar colorido não tinha andado tão azedo durante toda a manhã. Tinha acordado maldisposto. Cinzento como o tempo, como me disse a mãe. Saí para a praia. Apenas o mar me acalma. E hoje eu precisava de ver o mar. De ouvir o mar. Fiquei sentado nas redes. O ti Jonas do Peixe andava por ali e eu fiquei a ouvi‑lo contar histórias de outros tempos. De outros portos. De outros mares. E de repente achei que estava (...)

E tudo o mar levou! :)

11.03.23, Marta Velha
Agosto de 1979 Comemoraram‑se as festas em honra da nossa Senhora da Assunção. Por mais anos que passem esta festa é sempre bonita de se ver. A procissão é uma maravilha. Estavam cá algumas cachopas das Caxinas. Ainda bem, assim consolamos as vistas. Roupa domingueira. Olhares discretos. Um dia ainda apanho uma na minha rede. Será um desgosto para o mestre Maravalhas se eu apanhar na rede uma rapariga das Caxinas! Mas caraças, um homem não é de ferro! E o que vem à rede é sereia. Ad (...)